quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Acreditar num futuro melhor

Pequena nota
Recebemos do Sr. Mário Nunes, do “monte” do Pessegueiro, freguesia de Martim Longo, concelho de Alcoutim, um texto com pedido de publicação no ALCOUTIM LIVRE.
Publicaremos este e outro qualquer que nos enviem com esse sentido, desde que não seja ofensivo para quem quer que seja.
Sr. Mário Nunes, o ALCOUTIM LIVRE é mesmo LIVRE para todos aqueles que pretendam expressar a sua opinião, por aqui não há lápis azul.
Como certamente verificou já tive oportunidade de me referir à entrevista que concedeu expressando a minha modesta opinião sobre o assunto.

JV


(...) . Sr. José Varzeano,

Na sequência da entrevista dada, na passada 3ª feira, dia 21, na Antena 1, no programa da manhã de José Candeias, venho junto de V.(...). pedir a divulgação deste artigo de opinião sobre este potencial económico, existente nos concelhos de Alcoutim, Castro Marim, Tavira, Almodôvar e Mértola.

[Plantação de figueira-da-índia]

A Figueira da Índia é uma planta que encontra nestes concelhos, excepcionais condições a nível de solos e clima, para o seu desenvolvimento.

Apenas 2.000 ha. (400 ha por concelho) bastariam para produzir cerca de 60 milhões de kilos de fruto, os quais, após transformação, gerariam uma receita aprox. de 100 milhões de €uros.

Esta agro-indústria baseada na transformação do figo-da-índia já existe em muitos paises (Itália, Brasil, México, Estados-Unidos, Colômbia, etc.) .

Mas o nosso figo (devido às características do clima e dos solos), é dos melhores do Mundo e ganharia rapidamente os mercados internacionais.

Da palma e do fruto da Figueira-da-índia produz-se : Óleo, muito valioso (extraído da grainha), Nopal, Puré, Sumos, Doces, Licores, Aguardentes, Gelados, Yogurtes, Pigmentos p/ corantes Alimentares, Rações p/ animais, etc. etc...

Cada ha produz cerca de 30.000 kg de figos, o que proporcionaria ao agricultor uma receita aprox. de 10.000 € / anual. Esta planta a partir do 2º, 3º ano já produz fruto e ao 5º, 6º ano atinge uma produção "cruzeiro", se considerarmos que esta planta não necessita de rega ou produtos químicos, bastando apenas uma lavoura e uma aplicação de matéria orgânica anualmente, os Agricultores destas regiões tão pobres e com tão poucos recursos económicos, teriam assim, nesta planta, uma boa fonte de rendimento.

Já existe uma empresa, sedeada em Faro, que comercializa alguns produtos derivados do figo-da-india, mas que são importados. Recentemente tive uma conversa com o gerente dessa empresa, que manifestou todo o interesse, já no próximo ano, em absorver uma parte dos figos que nestes concelhos já são produzidos.

É lamentável que o poder decisório, muitas vezes, não tenha qualquer visão sobre o aproveitamento das potencialidades económicas existentes nestas regiões desfavorecidas, como neste caso concreto, em que o investimento nem sequer é significativo, se compararmos com os milhões já gastos na plantação de pinheiros e que têm um retorno financeiro muito duvidoso a médio ou longo prazo.

É urgente sensibilizar o poder local e central e a iniciativa privada, para esta riqueza, que não está a ser aproveitada.

Esta é uma grande aposta de negócio, para as nossas empresas, que estão a ir constantemente ao estrangeiro, quando essas oportunidades existem aqui tão perto.

Se o ministério da Agricultura em conjunto com o poder local e a iniciativa privada fomentassem esta agro-indústria, ela iria criar largas centenas de postos de trabalho directos e indirectos e um desenvolvimento com sustentabilidade para estas regiões, que vivem actualmente um processo de desertificação acentuada.

Esta agro-indústria, caso fosse implementada, iria criar um pólo de atracção turística, nos meses de Maio e Junho, com o esplendor paisagístico desta planta durante a floração, e nos meses de Agosto e Setembro, por ocasião da apanha do fruto. A Figueira-da-índia esconde ainda outras enormes vantagens: do ponto de vista cinegético, é uma fonte de água, alimento e abrigo para diversas espécies selvagens e na defesa contra fogos e no controlo da erosão dos terrenos e também muito interessante para a apicultura.

Depois do programa na Antena 1, recebi vários contactos de pessoas que têm terrenos e os disponibilizam para esta planta, se este projecto avançasse, só uma pessoa natural de Giões, Alcoutim, reservava 30 ha. de terreno para a plantação da Figueira-da-índia. Recebi outras mensagens de pessoas que me incentivavam a continuar a lutar por este projecto até conseguir sensibilizar e despertar o Poder de Decisão, mas julgo que devo parar por aqui, tentei mobilizar consciências e vontades, penso que fiz a minha parte como cidadão interessado no desenvolvimento económico e produtivo desta região.

[Tuneiras em Alcoutim. Foto JV, 2010]

Aqui deixo um desafio aos Srs. Presidentes das Câmaras de Alcoutim, Mértola, Almodôvar, Tavira e Castro Marim para que criem uma empresa mista e aproveitem os actuais financiamentos para a produção e inovação. Enviem uma delegação ao sul de Itália, com terrenos e clima semelhantes ao nosso, onde existe uma agro-industria de Figo-da-India e vejam no terreno como as coisas funcionam. Também sugiro que contactem o prof. Paolo Inglese, da universidade de Palermo e um dos maiores especialistas mundiais no cultivo desta planta.

"Aqueles que hesitam, acabam não conseguindo nada. Somente a decisão corajosa traz a vitória. As pessoas decididas sempre criam a ocasião propícia através das suas próprias decisões. Essas pessoas não esperam que a oportunidade venha, nem se tornam escravo dela: elas criam a OPORTUNIDADE "

Não pretendo qualquer promoção e até recuso qualquer divulgação da minha imagem pessoal, apenas quero, com humildade, dar o meu contributo como cidadão em prol desta região, onde nasci e vivi até aos 11 anos e não aceito que seja tão esquecida pelo poder que detêm as decisões, por vezes tão ambíguas.

Mário Nunes
(Dirigente associativo)

Pessegueiro, Martim Longo, Alcoutim

nunes_mario@sapo.pt