(PUBLICADO NO JORNAL DO BAIXO GUADIANA, Nº 99, DE OUTUBRO DE 2006, P.18)
Já referimos nas páginas deste semanário regional os netos que conhecemos dos 1ºs Condes de Alcoutim e nos quais incluímos D. Antão de Noronha com uma pequena referência biográfica que hoje pretendemos aumentar.
D. Antão de Noronha era filho natural de D. João de Noronha, segundo filho dos 1ºs Condes de Alcoutim, sobrinho de D. Pedro de Meneses, 2º Conde de Alcoutim e primo do 3º e 4º, respectivamente D. Miguel e D. Manuel de Meneses.
O seu pai, ainda que tivesse dois filhos, nunca casou.
Por Carta Régia de 24 de Fevereiro de 1564, no reinado de D. Sebastião e sendo regente o Cardeal D. Henrique, seu tio é D. Antão nomeado Vice-Rei da índia. Parte a 19 de Março com três naus, tendo-se perdido duas e chega a Goa a 3 de Setembro do mesmo ano, recebendo o governo das mãos do capitão da cidade por se achar doente o seu antecessor, D. João de Mendonça que acabou por vir a morrer na batalha de Alcácer - Quibir.
Antes de ser distinguido com tal desempenho, teve de dar provas do seu valor como navegador e guerreiro.
Sobrinho igualmente de D. Afonso de Noronha que foi capitão de Ceuta, com ele serve com valentia nessa praça. Acompanha-o com outros valorosos fidalgos ao Oriente para onde seu tio foi nomeado Governador e 5º Vice-Rei da Índia que por sua vez lhe deu o comando da esquadra do estreito.
Toma Katif e procura ocupar Baçorá que resiste e retira para Goa.
A sua acção militar mais importante foi a defesa de Ormuz perante o ataque dos turcos.
Quando os portugueses atacaram a fortaleza de Chembe, no Malabar, uma espingarda inimiga fracturou-lhe uma perna, de que veio a coxear.
Igualmente lhe pertence a defesa de Goa dos ataques do Hidalcão, havendo-se com o maior denodo.
Seu tio envia-o de novo para Ormuz, investindo-o no governo da forte praça e onde prestou assinalados serviços.
Em 1558, D. Constantino de Bragança logo que tomou posse do Governo da Índia, nomeia-o novamente para capitão de Ormuz, lugar que exerceu por mais três anos, regressando a Portugal doente, em 1561 e com D. Constantino de Bragança.
Em atenção ao curriculum apresentado, onde avultam o valor militar, os serviços prestados e a honestidade, não admirou a sua nomeação para tão alto cargo.
O Vice-Reinado que decorreu entre 1564/1568, sob o ponto de vista militar continuou a evidenciar as qualidades que mostrara, nomeadamente em Ormuz. Defendeu heroicamente Cananor e Malaca que foi atacada por uma esquadra de trezentos e cinquenta navios, chefiada pelo rei de Achem, suportando com brilho um duro cerco.
Também Damão sofreu no seu tempo forte ataque que conseguiu repelir. Tomou e reconstruiu Mangalor.
Como gestor as coisas não decorreram tão bem, tendo concedido poder demasiado aos capitães das fortalezas que aproveitaram para praticar abusos.
Depois de algum conflito com os padres jesuítas, acabou por se tornar cego servidor do seu “provincial”.
É substituído por D. Luís de Ataíde, 3º Conde de Atouguia a quem fez entrega do poder em 10 de Outubro de 1568, iniciando a viagem de regresso ao Reino em 2 de Fevereiro seguinte.
Faleceu durante a viagem, próximo de Angoche (Moçambique) sendo o seu corpo lançado ao mar, após ter sido cortado o braço direito, conforme declaração testamentária e enviado para Ceuta a fim de ser depositado no túmulo de seu tio, D. Nuno Álvares de Noronha.
Acontece que durante o seu governo, viu-se obrigado a assinar uma ordem a favor de um parente, escrevendo à margem: - a mão que assinou este documento devia ser cortada.
O cronista da “Décadas”, Diogo do Couto, regressou ao Reino na armada que trazia D. Antão de Noronha.
Casou com D. Inês de Castro (Feira), de quem não teve geração.
BIBLIOGRAFIA
Os Vice-Reis da índia no período da Expansão (1505 – 1581), Alfa, 1986, José F. Ferreira Martins.
Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Editorial Enciclopédia Limitada, Lisboa -Rio de Janeiro, Lisboa, 1962.
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Vol. II, Publicações Alfa, 1985.
História de Portugal, Fortunato de Almeida, Bertrand Editora, Seg. Vol., 2004.
Enciclopédia Verbo – Luso Brasileira de Cultura, Edição Séc. XXI, Vol. 21.
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro, 1975.