sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A cilha e a sobrecarga





Iremos referir hoje, nesta rubrica procurada por um número considerável de visitantes/leitores dois utensílios que praticamente existiam em todas as casas do concelho e que hoje começam a ser raros, pelo menos, no “monte” em que os procurámos já não conseguimos encontrar exemplares completos.

Tinham uma função semelhante, apertar algo aos animais de sela e carga.


Ambas são constituídas por uma tira de pano resistente ou de sisal, de largura e comprimento variáveis, dependendo dos animais em que se iriam aplicar, mais ou menos corpulentos.

A cilha destina-se a prender a sela ou a albarda ao dorso dos animais a fim de se poder montar com segurança.

Numa das extremidades tem uma peça de madeira, normalmente de azinho e de formato não uniforme como mostram as fotografias juntas. É por ela que passa
a corda ou baraço que se prende a uma argola de ferro situada na outra extremidade e que aqui se vem fixar, apertando.

À peça de madeira chama-se “chiribita” designação que não encontrámos nos dicionários consultados e fizemo-lo em função de vários tipos de escrita e conforme a pronúncia nos sugeria.


A sobrecarga é uma espécie de cilha que se destina a apertar a carga das bestas e mesmo as cangalhas quando for caso disso.

A diferença fundamental está em que, enquanto na cilha funciona a “chiribita”, na sobrecarga trabalha o gravato, espécie de gancho natural colhido em árvore de madeira resistente como é o azinho, zambujeiro e mesmo oliveira.

Naturalmente que não existem dois gravatos iguais e as suas dimensões estão em consonância com o tamanho das bestas em que vão ser aplicados.


O baraço, depois de se fixar na argola de ferro na outra extremidade, vem apertar ao gravato através de um nó simples, como se apresenta na fotografia e que não cede por mais movimentos que se façam.

Quando era necessário fazer algum ajustamento, utilizava-se a introdução de um cavaco que se torcia e prendia na corda. Chamam a esta pau, um garrocho.


O Dicionário do Falar Algarvio, de Eduardo Brazão Gonçalves, traz a palavra como de uso algarvio e com este significado.

Como se pode verificar pela última fotografia, o gravato era preparado de molde a fixar bem a corda de maneira a não se desprender.