sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Tesouro, pequeno monte de nome enigmático
O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa do algarvio José Pedro Machado (1), refere o topónimo como único no país, a nível de povoação e que tem origem no substantivo masculino tesouro, cujo significado todos conhecem.
Também no dicionário corográfico que costumamos consultar (2) o topónimo é único.
O problema está em saber que espécie de tesouro acabou por dar lugar ao nome de referência do local. Isso teria acontecido há tanto tempo que não ficou na memória do povo.
A zona teve ocupação muçulmana que deixou vestígios nomeadamente no Cercado das Oliveiras próximo do poço do monte onde existia um forno que tinha acesso através de uma calçada de pedra miúda. Fragmentos de telhas decoradas e bordos de panelas, púcaras e outros objectos foram recolhidos e avaliados. (3). O sítio é conhecido localmente pelo “telheiro” e a que o povo atribui ser do tempo dos mouros.
A povoação, que foi sempre pequena através dos tempos, pertence à freguesia do Pereiro e encontra-se em vias de desertificação, devendo ter tido por base um abastado proprietário, casa agrícola que ao longo dos tempos foi mantendo a povoação.
[Aspecto do centro do monte. Foto JV, 2010]
Saindo da sede de freguesia, a aldeia do Pereiro, tomamos a estrada nº 124 em direcção a Martim Longo e vamos encontrar à direita um entroncamento que constitui parte da estrada municipal nº 507, cujo troço foi pavimentado em 1986.
[A Herdadinha. Foto JV, 2009] O terreno é plano e estava (1992) coberto de estevas. Passa-se sobre o ribeiro do Alcoutenejo e ao fundo a Herdadinha, um monte abandonado há muito e onde em tempos se levavam as bestas ao lançamento.
Chegámos entretanto à pequena povoação que nos fica à direita e é de tipo concentrado. Perto, ainda se podia ver uma bonita seara de trigo, passava-se isto em 1992.
O monte dispõe de um pequeno largo. Casas típicas com poiais. Parreiras às portas.
Situa-se numa pequena elevação e já se vêem algumas amendoeiras.
Em 1940 foi atribuída pela Junta de Freguesia a verba de mil escudos para a abertura de um poço (Sessão de 8 de Janeiro), trabalho vigiado pelo membro da Comissão Administrativa, José Teixeira.
O vedor José Ribeiros recebe da Câmara em 1932 (4) vinte e seis escudos pelo trabalho de localizar a água para a abertura do poço do monte.
Zona onde a pastorícia imperava, ligada à cultura dos cereais, referimos o Alferes de Ordenanças, Manuel Teixeira, que em 1771, manifestava os seus gados.
José Orta Cavaco, residente no monte, era um dos maiores contribuintes do concelho em 1855/56.
Em 1864/65, Eugénio Dias fazia parte da Junta de Paróquia do Pereiro, acontecendo o mesmo com Manuel Sebastião nos anos de 1866/67.
Em 1773/74 era responsável pela Fábrica da Igreja da Paróquia do Pereiro, (fabriqueiro) Sebastião Teixeira, desempenhando as mesmas funções em 1794/95, Paulos Teixeira, certamente da mesma família dominante.
Desempenhava as funções de mordomo da Confraria do Senhor Jesus, em 1806/07, Manuel Vicente aqui residente. (5)
Na foz do Malheiro, em 1891, no pego denominado do “Linho”, foram encontradas duas pessoas afogadas. (6)
Veio a ser construído em 1986 um pontão sobre este barranco, que muito beneficiou o povo das redondezas, devido ao encurtamento de distâncias.
[Casa típica em ruina. Foto JV, 2010]
A nível populacional, as Memórias Paroquiais (1758) referem a existência de 7 vizinhos, que formavam vinte e cinco habitantes e então a Herdadinha era habitada por uma família composta por cinco elementos.
Em 1839 tinha onze fogos. (7)
No ano de 1992 em sete fogos viviam catorze moradores. No último censo (2001) pelo seu número ser inferior a dez constam do número dos “isolados”.
O monte tem energia eléctrica e os arruamentos foram pavimentados em 1992.
A água foi primeiramente distribuída por dois fontanários para depois o ser ao domicílio (2008). Um furo artesiano privado.
Em 1997 foram instaladas caixas de recepção do correio.(8)
É concessionada, em 1998, pelo período de seis anos, à Bis-Caça, Desporto Venatório e Gestão de Caça, Lda., com sede em Loulé, a zona de caça turística do Tesouro. (9)
Um caminho rural recentemente asfaltado liga esta povoação à do Cerro da Vinha.
NOTAS
(1) – Edição Horizonte / Confluência, III volume, 1993.
(2) – Novo Dicionário Corográfico de Portugal, de A-C- Amaral Frazão, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1981.
(3) – “O Algarve Oriental durante a ocupação islâmica”, Helena Catarino, in Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 6, 1997/98.
(4) – Acta da Câmara Municipal de 30 de Junho.
(5) – A Freguesia do Pereiro (do Concelho de Alcoutim) «do passado ao presente», José Varzeano, Edição da Junta de Freguesia do Pereiro, 2007.
(6) – Of. Nº 95 de 7 de Julho de 1891 ao Juiz de Paz do Distrito.
(7) – Corografia do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, 1841.
(8) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 4, Dezembro de 1996, p 12.
(9) – Jornal da Serra, Novembro de 1998.