terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um crime em Alcoutim nos finais do século XVII

Maria d`Orta, do termo de Alcoutim, em seu nome e de seus filhos, se me queixou de Bruno Gomes de Brito lhe matou seu marido e pai André Fernandes com um tiro de espingarda, para que se não queixasse da força e violência com que Francisco da Silva, Gregório Esteves, Balthasar Muxe Carvalho, e outros, furtaram uma donzella, sobrinha do morto André Fernandes, de mandado dos quaes o dito Bruno Gomes fez a dita morte. – E porque tenho mandado ordenar ao Corregedor da Comarca de Tavira tire devassa deste delicto, pronuncie e prenda os culpados – hei por bem se não concedam cartas de seguro aos culpados nelle, sem ordem especial minha, visto a gravidade delle pedir toda a demonstração.

O Conde Regedor, do meu Conselho d´Estado, o tenha intendido, e ordene aos Corregedores do Crime da Corte o executem nesta conformidade.

Em Lisboa, a 20 de Maio de 1689 = Rei. (*)


(*) Collecção chronologica da legislação portugueza, Vol. 10, pág. 190.

Pequena nota

É este o despacho que fui encontrar nas minhas pesquisas e que imediatamente relacionei com a estória que me contaram, Francisco Rodrigues e Manuel António Pinto, ambos naturais do monte do Zambujal, freguesia de Vaqueiros mas que se fixaram e faleceram na vila de Alcoutim.

Recentemente, outros originários daquela zona igualmente conheciam a estória, com menos pormenores do que os dois primeiros, o que é natural.

A ligação que faço a este despacho é a referência que Francisco Rodrigues fazia ao Bruno Gomes, dizendo que era o Conde de Brunhos e que tinha mandado matar a donzela, estória / lenda que refiro na minha “postagem”de 20 de Fevereiro de 2010, com o título de “A lenda do Cerro da Mortalha”.

[Montinho da Revelada, 2010]
Estou convencido que este facto real que o despacho apresenta, reinando D. Pedro II, acabou por ter dado origem àquilo que hoje se considera uma lenda com a deturpação que os trezentos e vinte anos passados originaram.

Falta saber se os criminosos foram punidos.

Uma lenda acaba por ter na maior parte dos casos algo de verídico ou que alguém pensou que o fosse. Depois o homem vai compondo com toda a sua imaginação e desenrolando os factos conforme lhe apraz e fica-se com um produto lendário.

Esta caso será possivelmente um exemplo.

A partir desta "postagem" lançamos uma pista para eventuais interessados nestes assuntos.

JV