quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Caldeirada de peixe muge

Há 50 / 60 anos em Alcoutim o peixe que se comia era quase todo proveniente do rio, com destaque para o muge, aqui quase sempre designado por “peixe muge” e possivelmente por ser o mais abundante. Do de água salgada aparecia a sardinha, o charro, as mucharras e de quando em vez conquilhas.

As pessoas que ali exerciam a sua actividade e que não eram da região, quando havia peixe à refeição, referiam-no como o 365.

Entre as várias maneiras de cozinhar o peixe, uma delas é de caldeirada e a que o muge não escapa.

Ainda que a caldeirada tenha pormenores em comum tanto com peixe do rio como do mar, existe sempre algo que as distingue uma das outras.

Mesmo em Alcoutim há maneiras diferentes de fazer caldeirada e a que vamos referir foi ensinada à minha mulher há mais de quarenta anos e era feita com frequência na venda do Sr. Sabino. Segundo informação, na altura, foi ensinada por pescadores do rio que muito a utilizavam nas suas andanças.

Esta caldeirada só leva este tipo de peixe, aliás, como o nome indica.

É feito o tradicional refogado com os temperos habituais, azeite, cebola, alho picado, tomate bem maduro, salsa, louro, um pouco de pimento e aqui talvez uma das diferenças em relação a outros lugares, orégãos.

Antes desta erva aromática tinha-se acrescentado a água necessária para se poder deitar o peixe em postas relativamente largas, tendo o cuidado de nas cabeças dar um golpe para que os miolos possam influenciar o gosto do molho.

O peixe não foi salgado e o tempo de cozedura decorre com rapidez pois se coze um pouco mais perde as qualidades pelas quais é apreciado.

Um pouco antes de apagar o lume retira-se para uma tigela uma pequena porção de molho onde é deitado bastante sal e dando origem a uma espécie de salmoira. É com esta salmoira que se cada um tempera a caldeirada ao gosto usando uma colher de sopa como medida.

O prato acompanha-se com bom pão regional já que o molho se torna muito agradável. Nesta caldeirada não há batatas o que se pode considerar uma excepção.

Pensamos que este prato regional estará quase perdido e era bom que fosse recuperado.