(PUBLICADO NO POVO ALGARVIO, DE TAVIRA, Nº 2083 DE 18 DE MAIO DE 1974)
Pequena nota
Apresentamos hoje nesta nossa rubrica um texto escrito pelo Prof. Trindade e Lima uma das poucas que da sua época escreveu algo sobre a sua terra.
Ainda que conheça infelizmente pouco daquilo que escreveu, aqui deixo este pequeno artigo publicado em “Pequenos Apontamentos”, o seu espaço no jornal regional.
JV
Escreve
Trindade e Lima
Foi no Largo do Carmo, no mesmo lugar onde há tempos encontrámos um doutor amigo com as guias do bigode alçando-se vitoriosas como flâmulas a bater ao vento, que agora encontrámos este homem do nosso concelho que por estas redondezas negoceia em gados que traz daquelas zonas. Falámos de coisas da nossa terra e referimo-nos à tristeza que por lá vai. Os homens válidos debandaram: uns para o estrangeiro, outros para os centros industriais onde a vida não mostra tão severa a sua carranca de madastra.
Era abundante em gado a nossa região, vindo nas estatísticas pecuárias entre as primeiras e parece-nos que até num ramo ocupava lugar primacial. Tinha fama o seu gado bovino muito apreciado e agenciado para enquadrar e conduzir os touros nas pastagens e nas praças tauromáquicas. Chamavam-lhe mertolengo mas alguns entendidos opinavam que se deveria chamar alcoutenejo por ser daqui a sua raiz. Não sabemos se ainda há por lá algum, mas supomos que muito pouco. Lembramo-nos ainda dos seus mercados muito frequentados e procurados por negociantes de fora.
[Retirado com a devida vénia de htt://www.cnpc.org.br]
Além do gado os trabalhos agrícolas estão pouco menos que extintos. Ultimamente a sua maior valia residia no cultivo da amendoeira, essa mesma condenada, pelo desenvolvimento da plantação de árvores industriais. Um nosso amigo aqui residente em Lisboa e que lá possui alguns bens vai mandar arrancar as amendoeiras de uma sua propriedade para proceder à plantação de eucaliptos.
E para amenizar a conversa com aquele nosso conterrâneo dissemos-lhe que o pai era da mesma incorporação militar que o José Lopes, o nomeado gigante de Farelos, tão cedo arrebatado à vida. Éramos ainda crianças quando eles, vindos à inspecção, se aboletaram na casa de nossos pais.
Assim nos iremos distraindo para que não seja só de amarguras a urdidura com que se entrelaçam os passos da existência.