quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A raça bovina Mertolenga

Na minha região de origem cedo conheci os cabrestos nas entradas de toiros e nas touradas. Na primeira a que me lembro de assistir, com o meu pai, actuava o jovem matador Manuel dos Santos.

E foi ao meu progenitor que ouvi pela primeira vez chamar aos cabrestos mertolengos.

Fui crescendo sem a designação nada me dizer. Isso só aconteceu quando li o artigo de Trindade e Lima e que aqui reproduzimos recentemente, no qual relacionava, naturalmente, “mertolengo” como originário de Mértola mas havia quem opinasse que a sua origem seria Alcoutim.

Nos anos que permaneci em Alcoutim nunca ouvi falar em tal. Entretanto, a criação de gado bovino foi diminuindo bastante e hoje é bem escassa.

O Eng. Agrónomo Bernardo Lima, (1873) considerado muito competente na área, diz que esta raça “alentejana” bem adaptada aos cerros e às magras pastagens que estes lhe oferecem, tornou-se rija para acarretos e lavra das terras magras dos cerros.

Por estas características os considera bons bois de cabresto. Dá-os como existindo no Baixo-Alentejo sem especificar Mértola, em Alcoutim e Martim Longo, aqui sim especificando.

[Retirado com a devida vénia de http:mertolenga.no.sapo.pt]

Parece que o mertolengo original seria “vermelho”, enquanto o do Baixo-Guadiana seria malhado (vermelho e branco). Com o cruzamento, a permanência genética forte da cor branca veio dar origem ao rosilho mil flores. A raça tem assim três variantes quanto à coloração: - o vermelho, o rosilho e o malhado. (1)

Segundo Eduardo Gomes Calado, são animais de pequena corporatura, vermelho - malhados ou salgados e que são muito apreciados pelas qualidades que possuem para os serviços agrícolas.

Como animais de tracção, na charrua ou no arado, são óptimos, pois têm além da rijeza da unha, docilidade, poder muscular e vigor para aguentar as fadigas que lhes são exigidas no amanho das magras terras da serra.

De escassa produção leiteira, mas de carne de boa qualidade, eram e são procurados para enquadrar e conduzir os touros nas pastagens e nas praças tauromáquicas, sendo conhecidos por cabrestos.

As suas formas são harmoniosas, esqueleto fino e o contorno das aberturas naturais e mucosas de cor clara. Cornos finos brancos e escuros na ponta. Longevidade produtiva.

Enquanto os efectivos de pelagem vermelha e vermelha bragada se distribuem pelas bacias do Tejo e do Sado, os de pelagem malhada fixam-se principalmente na margem esquerda do Guadiana. (2)

NOTAS
(1) – htt://www.cnpc.org.br
(2) -“O Algarve Sob o Ponto de Vista Pecuário”, Eduardo Gomes Calado, Boletim da Junta de Província do Algarve, 1940.