Este é o tipo de cama de ferro cujo exemplar é o mais antigo
que conheço no concelho de Alcoutim e designa-se por “cama de bancos”.
Confesso que é o único que conheço e é propriedade minha
pois adquiri-o na vila de Alcoutim por volta de 1973, tendo-me custado 150$00.
Nunca tinha visto tal modelo e encontrei-o encostado a uma
parede. Quando estava a observá-lo, chegou a proprietária que por graça me
perguntou se queria comprar pois tinha notado o meu interesse. Perguntei-lhe quanto
queria, respondeu-me 150$00 e o negócio ficou fechado.
Quando fiz a aquisição e já lá vão cerca de quarenta anos,
procurei saber junto da anterior proprietária, já falecida há muito, como é que
aquelas duas peças funcionavam.
Arrumei-as numa arrecadação e anos depois pintei-as como
ainda estão.
Atendendo a que na nossa rubrica de Etnografia tenho abordado,
ultimamente, alguns tipos de camas de ferro antigas, este veio-me logo à
memória. Só recentemente tive oportunidade de o fotografar para esta
publicação.
Para esclarecimento de várias dúvidas contactei a minha
informadora habitual, alguém que nasceu e viveu a maior parte da sua vida no
concelho de Alcoutim, que já ultrapassou as oito décadas, teve uma vida de
pleno contacto com a ruralidade e possui ainda uma excelente memória.
Este género de cama trata-se de uma evolução de uma
primitiva cama de bancos, menos elaborada e feita pelo homem comum, por isso,
sem ser especialista na arte.
"Pés" |
Nos ramos provenientes da limpeza das árvores os seus olhos
procuravam encontrar dois ramos robustos, parecidos e que possuíssem uma forca.
Cortava-os de um tamanho semelhante, perfurava a parte
oposta à facetada com um trado ou então utilizando um formão, numa das
extremidades, de maneira que a parte que não tinha forca pudesse encaixar com
alguma profundidade e justeza. No outro extremo procedia da mesma maneira tendo
em conta o equilíbrio do suporte, aqui designado por banco.
Pelo modo indicado, construía os dois bancos à mesma altura.
Colava-os à distância adequada e sobre eles assentavam paus de comprimento
igual e outros da largura dos bancos e em sentido contrário, cruzando-se.
Sobre essa espécie de estrado colocavam um colchão de palha
de aveia.
A cama de bancos em ferro é baseada no mesmo princípio,
sendo neste caso, os bancos feitos desta matéria e onde já aparece a diferença
entre a “cabeceira” mais elaborada e os “pés”.
A forca para equilíbrio dos bancos também existe mas com uma
sustentação mais eficiente. De resto, tudo funcionava da mesma maneira.