Em França e na Bélgica fala-se a
mesma língua, o francês. Haverá algumas diferenças, como é natural. Uma das
diferenças ocorre no nome de alguns números e causa algum espanto perceber a
sua razão de ser. É o caso do numeral setenta.
Os Belgas dizem: septante, septante et un, septante deux,
septante trois…etc.
Os franceses dizem: soixante dix, soixante onze, soixante douze,
soixante treize...etc
Mas se pesquisarmos junto das
populações, uma grande percentagem, tanto de franceses como de belgas não sabe
por que é assim… Já esqueceram!
Conheço um Professor Catedrático
Belga da área de letras a trabalhar numa Universidade de Lisboa que sabe desta
diferença linguística, mas desconhecia totalmente as razões para tal.
Isto não foi sempre assim. Ate 1870 dizia-se
da mesma maneira em França e na Bélgica.
Soube disto em Alcoutim em 1955.
Disse-mo um Chefe de Conservação de Estradas que então lá chefiava os
cantoneiros e tinha estudado na Argélia Francesa. Ele deu-me alguns dias
explicações de francês quando eu estava em Alcoutim a convalescer por ter feito
operação a uma apendicite aguda
no Hospital Militar da Estrela. Começara em Outubro os meus estudos secundários
e não queria perder todo o mês de Fevereiro de 1955 entre doença e
convalescença e ele fez o favor de me ajudar.
A razão é a seguinte: Em 1870
houve uma guerra entre a Alemanha e a França. A França perdeu essa guerra e
sentiu fortemente a humilhação. Então os franceses nem podiam ouvir falar em septante (70).
E a gramática foi alterada:
passou a dizer-se soixante dix (70) e soixante
onze (71), soixante douze (72),
etc. Os belgas como nada tinha a ver com essa disputa mantiveram a maneira de
se exprimir.
O que os franceses fizeram em
1870 depois que apanharam uma valente tareia dos alemães é o que o Governo quer
fazer agora, segundo a Associação 25 de Abril denuncia nesta moção: apagar o
dia 25 de Abril do calendário:
Des. de João Pedro Rodrigues |
Moção
Um decreto-lei do governo, que
está em discussão na Assembleia da República, determina que para trabalhadores
das embaixadas, missões bilaterais e serviços consulares portugueses o 25 de
Abril deixe de ser feriado obrigatório.
Apenas o 25 de Dezembro, dia de
Natal e o 10 de Junho, Dia de Portugal, serão feriados obrigatórios.
Os restantes feriados, sem
ultrapassar nove, entre os feriados portugueses e os do país onde a missão está
instalada, serão escolhidos pelos chefes da missão.
Tendo em atenção que as
embaixadas são território nacional, não deixa de ser surpreendente que alguém
pretenda, por esta via, suprimir o Dia da Liberdade e impedir que trabalhadores
portugueses possam comemorar o dia fundador da nossa Democracia.
De há muito que está claro que o
actual governo de Portugal pretende acabar com tudo o que cheire a 25 de Abril!
[…]
A sua intenção revisionista tem
vindo a ser mascarada, com argumentos de “dívidas e memorandos” que têm servido
de justificações para as alterações de natureza económica, mas principalmente
social, que têm vindo a impor ao país.
Com as muito nefastas consequências,
que todos vimos sentindo na pele.
Pois bem, as máscaras começam a
cair e coube ao ministro dos Negócios Estrangeiros o primeiro acto a
descoberto.
Com esta iniciativa, torna-se
claro que se prepara a abolição do 25 de Abril como feriado nacional. Não é, no
fundo, surpreendente. Era claro que já a anterior abolição dos feriados do 5 de
Outubro e do 1.º de Dezembro, comemorativos da Revolução Republicana e da
independência nacional, visava preparar o terreno para a supressão da memória
dos principais acontecimentos históricos que estão na génese do Estado
independente, livre e democrático, do Estado de Direito que hoje temos em
Portugal e são a base da luta dos portugueses contra o desígnio mais vasto e
inconfessado de quem está hoje no exercício do poder, que é o da substituição
do regime democrático conquistado com o 25 de Abril por um outro tipo de
regime, mais ou menos autoritário.
Contra isso, contra a destruição
do Portugal de Abril, lutaremos sem desfalecimentos.
É nesse sentido que a Assembleia-Geral
da Associação 25 de Abril, reunida a 15 de Dezembro de 2012, por unanimidade:
1. Repudia com veemência tal
atitude revanchista e indigna do país que somos e dos cidadãos que prezam e
honram a Liberdade e a Democracia que conquistámos, a 25 de Abril de 1974.
2. Apela a todas as organizações
cívicas e aos cidadãos em geral, que se reclamam da Liberdade, da Democracia e
da Justiça Social, a uma mobilização e luta pela não aprovação deste desejo do
governo.
3. Apela à consciência dos
deputados da Assembleia da República, que têm o dever de se opor a medidas que
tendam a pôr em causa o regime democrático, a que não aceitem e aprovem a
medida da supressão do 25 de Abril como feriado nacional, em todo o território
de Portugal, que inclui, evidentemente, o das suas embaixadas e outras
representações diplomáticas
.
Outra atitude manchará
inexoravelmente a sua acção, tornando-os responsáveis pela consumação de um
acto verdadeiramente anti-patriótico.
Lisboa, 15 de Dezembro de 2012