Daniel Teixeira
Não porque seja «da praxe» acrescentar comentário ao comentário mas este texto do José Varzeano para além de se enquadrar num processo que tem seguido com outros colaboradores do Blogue Alcoutim Livre (coisa que eu gostaria de poder fazer também aqui no Raizonline) tem para mim um significado especial.
De um lado trata-se de falar na minha colaboração escrita
sobre o Concelho de Alcoutim, que é uma coisa que me toca muito, em vários
sentidos, mas é também o anotar de que mesmo sendo a minha alma pequena, vale
sempre a pena.
Pequena (a minha alma aqui) porque inicialmente tive a
convicção de que escrever sobre este Concelho era, em certa medida, trabalho
perdido porque sempre achei que em Alcoutim não há mesmo nada já que se possa
fazer para o fazer reviver e essa morte que anunciava eu não a queria lembrar
nem aceitar e queria sobretudo não pensar nela.
Manta de Lã feita em Alcaria Alta |
Mas isto acontece um pouco com quase tudo, ter esta sensação
de que não vale a pena: neste jornal temos uma larga participação de pessoas
que lutam por causas que pelo menos aparentemente são causas perdidas desde há
muito.
O passado deixou de contar como lição para o presente e para
o futuro e há dificuldade por vezes em fazer entender que nunca se pretendeu um
regresso ao passado, apenas se tem querido que esse passado não seja esquecido.
Ora quem fala do passado? Só pode ser quem o viveu (os
cotas) e digo infelizmente porque esse passado não se transmitiu ou não
«entrou» no desenvolvimento cultural que se tem seguido. Foi mau, esse passado
(?) ou foi uma coisa que não merece manter os seus traços? Tenho dificuldade em
aceitar isso...
Uma parte substancial, por exemplo, dos Prémios Nobel ou
outros têm sido entregues a alguns mais jovens mas muito mais a pessoas com
tradição cultural implantada, com provas consolidadas: o falecido escritor José
Saramago disse que a pessoa que mais lhe ensinou na sua vida foi o seu avô que
não sabia ler nem escrever e todos nós temos exemplos de lições de vida que recordamos.
O passado não foi e não é assim tão inócuo como isso: todos nós o sabemos e
alguns esquecem (ou pensam que esquecem).
Há dias, bastantes, ouvi um jovem poeta e romancista, muito
bom, na minha opinião, dizer que sabia que nunca seria um Fernando Pessoa ou um
Tolstoi ...as referências comparativas que se vão buscar, na literatura, por
exemplo, na sua grande parte, são de consagrados alguns deles já falecidos. E
para isso o passado serve, serve para isso e deveria servir para muito mais.
Ora bem, dito isto quero agradecer ao José Varzeano e aos
restantes colaboradores, leitores e amigos do Blogue Alcoutim Livre. Vou
continuar a escrever no estilo e sobre os assuntos que sei...
E termino com um poema de PedroAfonso que fui «pescar» aqui.
rega as tuas plantas
semear é sorrir no futuro. Por entre a
terra
recordar amanhã.
O meu quintal é pequeno
e acredito que cobrir-lhe os muros
com vida
com vida
não é apenas uma forma de
me alhear.