(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 10 DE ABRIL DE 1986,
Brisas do Guadiana)
Vista ribeirinha de Alcoutim nos dias de hoje. Foto JV |
A magia do Guadiana, no seu calmo serpentear pelas terras de
Alcoutim, foi uma das constantes da visita de trabalho dos representantes da
imprensa regionalista algarvia à bonita vila sobranceira ao rio.
Os visitantes saíram da estrada nacional nas imediações do
Azinhal, por aí começando o seu contacto com o elevado número de pequenas
povoações que, no seu todo, constituem parte apreciável do concelho
alcoutinense. Após percorrerem algumas dezenas de quilómetros da terra serrana
do interior, detiveram-se no lugar de Vale da Rosa, onde apreciaram a
curiosidade que é a central de energia solar instalada naquela zona nordestina,
dois jogos de acumuladores fornecendo, quando trabalham em condições normais, o
que no momento não acontecia, luz eléctrica às diversas residências e energia
suficiente para fazer funcionar o telefone, a televisão e uma arca congeladora.
Aí foi-lhes explicado o meio de actuação e as vantagens do sistema quando puder
generalizar-se, em especial nas terras com idênticas características.
Na aldeia de Vaqueiros apreciou-se o aglomerado urbano e na
de Martinlongo houve oportunidade de visitar a igreja, não há muito restaurada.
Na tarde e após o almoço, os jornalistas reuniram-se nos
Paços do Concelho, com o Presidente da Câmara Municipal, sr. Manuel Cavaco
Afonso, o vice-presidente, sr. Manuel Carvalho e o “alcalde”da fronteira vila
espanhola de Sanlucar del Guadiana, sr. Manuel Peres Nogueras. O sr. Cavaco
Afonso deu as boas vindas aos visitantes, agradeceu a presença e aludiu ao
interesse especial desde sempre notado na Imprensa regionalista pelo seu
concelho., talvez resultante da constatação de se tratar de uma zona
desprotegida. Disse não ter sido por acaso que se entrara na área de Alcoutim
pelo lado do Azinhal, mas para serem apreciados motivos que, anos antes,
estavam na origem do trasporte de doentes em padiola, de umas terras para
outras, na procura de cuidados clínicos e por falta de vias de ligação,
enquanto o vizinho turismo ia evoluindo e o ruído dos automóveis não conseguia
chegar ao interior do concelhio. Apontou as vantagens da abertura da fronteira
de Alcoutim com Sanlucar e referiu a ajuda dos jornais para que as crianças
tivessem escola, sem dificuldade de percorrer grandes distâncias para aprender
as primeiras letras, e também para se saber que, se de imediato não lhe
acudissem nas carências mais urgentes, a região não tardaria a tornar-se desértica.
O sr. Cavaco Afonso disse ainda estar nos propósitos da
edilidade a ampliação das instalações camarárias, para o que já foi adquirido
um prédio contíguo, e pensar-se na construção de uma pousada de 40 quartos, num
monte ao lado da vila, com excelente perspectiva. Concluiu afirmando ser
preciso criar condições para que as zonas pobres se tornassem menos pobres e
pedindo palavras de crítica, mas bem intencionada, para os problemas poderem
ser resolvidos.
A estrada marginal, factor positivo
para o desenvolvimento da região
Em nome da AIRA – Associação da Imprensa Regionalista
Algarvia, o Reverendo Carlos Patrício referiu a vantagem dos jornalistas
conhecerem os problemas para poderem ajudar a resolvê-los e fez votos pelo
progresso de Alcoutim, que considerou zona rica e vital ao progresso e
valorização do Algarve.
Após percorrerem alguns pontos, de interesse, foi facultado
aos visitantes um passeio a Sanlucar, a pequena, branca e florida vila do outro
lado do rio.
Aí, e nas “Casas Consistoriales”, apresentou cumprimentos o
sr. Manuel Nogueras, considerando Sanlucar uma terra sem pretensões, sendo a
maior destas, à semelhança de Alcoutim, a reabertura da fronteira comum. Nesse
sentido, informou, estava a ser comprado o terreno para a implantação da
Alfândega. Para facilitar os acessos, começara em Sanlucar o alargamento de uma
via de ligação a S. Juan del Puerto. A reabertura não visava negócio, mas
amizade, pois há muitas famílias com parentes num lado e noutro que para se
encontrarem, têm de ir a Ayamonte.
Pela AIRA, o dr. Joaquim Magalhães lembrou serem muito
antigas as relações entre Alcoutim e Sanlucar e apelou para que se construíssem
mais pontes, traços de união entre os dois países ibéricos que haviam revelado
o mundo ao mundo.
De novo em Alcoutim, o regresso dos jornalistas às terras de
origem fez-se pelos novos troços da estrada marginal do Guadiana (Laranjeiras e
Guerreiros do Rio) que se antevê como importante factor de progresso não só
para aquele concelho como para o de Castro Marim, pelo encurtamento de
distâncias e na extraordinária beleza dos seus recantos e paisagens.
NB - A rubrica Brisas do Guadiana era nesta altura assinada pelo grande jornalista José Manuel Pereira.