(PUBLICADO NO CORREIO
DA MANHÃ DE 8 DE OUTUBRO DE 1985)
O Barlavento algarvio faz parte da «área de intervenção, a
médio prazo, do projecto de reflorestação nacional, financiado pelo Banco
Mundial».
O projecto, acordado há cerca de dois anos entre o Governo
português e o Banco Mundial, estipula a arborização com espécies produtoras de
madeira de cento e cinquenta mil hectares em todo o País, dos quais noventa mil
a cargo do Estado e os restantes da Portucel.
Uma fonte da Direcção-Geral de Florestas disse que o
objectivo de tal projecto é, simplesmente, «atingir esses cento e cinquenta mil
hectares no mais curto espaço de tempo, não determinando normas rígidas a
seguir na florestação».
O pinheiro manso, o bravo e o eucalipto são as espécies
escolhidas pelos serviços florestais para o plantio nas áreas a florestar no
Algarve, cujo valor é, no entanto, desconhecido na região.
Segundo a mesma fonte, aqueles serviços têm procurado
diversificar a implantação no terreno das espécies escolhidas, evitando criar
na sua área de intervenção manchas de concentração de uma só espécie.
A mesma fonte reconheceu, todavia, que o poder de
intervenção dos serviços florestais no processo de reflorestação «é muito reduzido».
Estes serviços apenas intervêm quando são solicitados para
tal por um proprietário que lhe pede , por exemplo, que elaborem um plano de
reflorestação do terreno.
Por outro lado, os serviços florestais não exercem também
qualquer controlo sobre as extensas áreas florestadas pelas três empresas de
celulose, detentoras de grandes interesses no Algarve.
Estas empresas, classificadas como «grandes plantadoras de
eucalipto na região algarvia, exploram grande parte das zonas de floresta da
serra da região.
O mesmo técnico da Direcção-Geral de Florestas referiu que o
plano da reflorestação do Nordeste algarvio, que não se integra, no referido
«projecto de reflorestação nacional», obedece a princípios totalmente
diferentes.
A reflorestação naquela zona insere-se num plano de
desenvolvimento integrado abarcando os concelhos de Alcoutim e Castro Marim,
que tem por objectivo, «aproveitar ao máximo os usos múltiplos da floresta integrando-os
com o fomento da caça e da pastorícia.» promovendo-se assim a fixação humana.
No Nordeste algarvio, conforme salientou o mesmo técnico,
não se vão plantar eucaliptos nem pinheiros, mas sim espécies autóctones e
adaptadas ao seu clima e solo, tais como medronheiros, alfarrobeiras,
amendoeiras, sobreiros e azinheiras.
Pequena nota
As fotografias que
apresentamos são recentes e de nossa autoria. A primeira apresenta uns
raquíticos pinheiros e limpos, não sabendo quando o trabalho foi feito. A 2ª,
ainda ninguém lhe tirou uma pernada! Estão ao lado um do outro!
Depois de recordar a
leitura deste texto, passados 27 anos, a florestação efectuada no concelho,
pelo que conheço das visitas feitas em todas as freguesias, é quase totalmente
de pinheiros, o que sempre nos admirou pois não era árvore existente no
concelho em número significativo. Os poucos exemplos que conhecemos demonstram
apesar dos anos decorridos um porte modesto.
O que é que mudou? Foi
o sentido técnico ou a política?
A azinheira foi sempre
a árvore desta região!
JV