quinta-feira, 13 de junho de 2013

Uma "operação cesareia" na aldeia de Martim Longo


O facto que vamos referir ocorreu na aldeia de Martim Longo no dia 20 de Junho de 1836 e está alicerçado em documentação oficial.

O lugar de partido médico de Alcoutim é criado por D. João VI em 15 de Abril de 1818 mas a verdade é que o lugar não era preenchido por falta de concorrentes e quando o foi a ocupação fez-se por médicos estrangeiros, espanhóis e pelo menos um francês, que acabou por falecer em Alcoutim onde ficou sepultado, o Dr. Pedro Faure.

Os médicos nestas circunstâncias e porque eram estrangeiros celebravam com a Câmara um contracto semelhante às regras existentes para ocupação oficial.

Em 8 de Setembro de 1835 é celebrado um ajuste com o médico espanhol, Dr. Jacinto Chapella, visto o lugar de facultativo continuar vago. No ano seguinte a Câmara tem dificuldade em cumprir os ajustes firmados, pelo que presumimos, o médico deixou de cumprir o que tinha sido acordado. Só em 1 de Novembro de 1842 Alcoutim passa a ter médico através de um contrato celebrado com o médico francês, Dr. Pedro Faure.

Tendo falecido uma cidadã de parto na aldeia de Martim Longo, o barbeiro José de Sousa Barão extraiu-lhe depois de morta e por meio de “operação cesareia”, duas crianças, uma das quais se encontrava com vida.

Foi lavrado um termo neste sentido assinado pelo pároco Encomendado e pelo barbeiro-cirurgião. Ainda que o facto não seja referido, pensamos que a criança retirada com vida acabou por falecer.

A este barbeiro morreu-lhe uma filha menor em 17 de Dezembro do ano seguinte, sendo sua mãe Francisca do Carmo.

Veio a falecer em 20 de Dezembro de 1852 e agora casado com Maria Rosa, pois teria enviuvado da sua primeira mulher.

O barbeiro-cirurgião era uma profissão muito vulgar na Idade Média, já que nessa época as cirurgias de uma maneira geral não eram realizadas por médicos.

Competia-lhes também a função de sangradores, isto é, realizar sangrias.

Outra das tarefas que realizavam era a da extracção de dentes, o que se prolongou por muitos anos nas regiões mais atrasadas do país. Era habitual, segundo informação recolhida, deslocarem-se às feiras regionais levando consigo uma malinha na qual transportavam as “ferramentas” para o seu trabalho.

Sempre ouvimos contar que em Alcoutim, o Dr. João Francisco Dias deitou ao rio as ferramentas que para esse efeito possuía o barbeiro Carolino! Isto aconteceu em meados do século passado!

Em 1877, por isso, muitos anos após a morte do barbeiro José de Sousa Barão, encontrámos outro com o mesmo nome, possivelmente da mesma família, que exercia a profissão de sangrador, nesta altura, sujeita à existência de uma carta que o habilitasse para tal e que era passada por um médico após a realização de provas.

A informação é a seguinte:- Os guardas, (da Alfândega) no exercício da sua função, entre Lutão e Martim Longo atiraram sobre o sangrador, José de Sousa Barão, provocando a morte do animal que montava. (Of. Nº 186 de 7 de Dezembro de 1877 do Administrador do Concelho)


Não deixa de ser esquisita e curiosa esta “operação” que a documentação nos transmite.