O facto que vamos referir ocorreu na aldeia de Martim Longo
no dia 20 de Junho de 1836 e está alicerçado em documentação oficial.
O lugar de partido médico de Alcoutim é criado por D. João
VI em 15 de Abril de 1818 mas a verdade é que o lugar não era preenchido por
falta de concorrentes e quando o foi a ocupação fez-se por médicos
estrangeiros, espanhóis e pelo menos um francês, que acabou por falecer em
Alcoutim onde ficou sepultado, o Dr. Pedro Faure.
Os médicos nestas circunstâncias e porque eram estrangeiros
celebravam com a Câmara um contracto semelhante às regras existentes para
ocupação oficial.
Em 8 de Setembro de 1835 é celebrado um ajuste com o médico
espanhol, Dr. Jacinto Chapella, visto o lugar de facultativo continuar vago. No
ano seguinte a Câmara tem dificuldade em cumprir os ajustes firmados, pelo que
presumimos, o médico deixou de cumprir o que tinha sido acordado. Só em 1 de
Novembro de 1842 Alcoutim passa a ter médico através de um contrato celebrado
com o médico francês, Dr. Pedro Faure.
Tendo falecido uma cidadã de parto na aldeia de Martim Longo, o barbeiro José de Sousa Barão extraiu-lhe depois de morta e por
meio de “operação cesareia”, duas crianças, uma das quais se encontrava com
vida.
Foi lavrado um termo neste sentido assinado pelo pároco
Encomendado e pelo barbeiro-cirurgião. Ainda que o facto não seja referido,
pensamos que a criança retirada com vida acabou por falecer.
A este barbeiro morreu-lhe uma filha menor em 17 de Dezembro
do ano seguinte, sendo sua mãe Francisca do Carmo.
Veio a falecer em 20 de Dezembro de 1852 e agora casado com
Maria Rosa, pois teria enviuvado da sua primeira mulher.
O barbeiro-cirurgião era uma profissão muito vulgar na Idade
Média, já que nessa época as cirurgias de uma maneira geral não eram realizadas
por médicos.
Competia-lhes também a função de sangradores, isto é,
realizar sangrias.
Outra das tarefas que realizavam era a da extracção de
dentes, o que se prolongou por muitos anos nas regiões mais atrasadas do país.
Era habitual, segundo informação recolhida, deslocarem-se às feiras regionais
levando consigo uma malinha na qual transportavam as “ferramentas” para o seu
trabalho.
Sempre ouvimos contar que em Alcoutim, o Dr. João Francisco
Dias deitou ao rio as ferramentas que para esse efeito possuía o barbeiro
Carolino! Isto aconteceu em meados do século passado!
Em 1877, por isso, muitos anos após a morte do barbeiro José
de Sousa Barão, encontrámos outro com o mesmo nome, possivelmente da mesma
família, que exercia a profissão de sangrador, nesta altura, sujeita à
existência de uma carta que o habilitasse para tal e que era passada por um
médico após a realização de provas.
A informação é a seguinte:- Os guardas, (da Alfândega) no exercício da
sua função, entre Lutão e Martim Longo atiraram sobre o sangrador, José de
Sousa Barão, provocando a morte do animal que montava. (Of. Nº 186 de 7 de
Dezembro de 1877 do Administrador do Concelho)
Não deixa de ser esquisita e curiosa esta “operação” que a
documentação nos transmite.