sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Alguns aspectos sobre o linho no concelho de Alcoutim

É conhecido como planta têxtil desde tempos longínquos e na década de cinquenta dos nossos dias ainda era semeado em muitos pontos do concelho de Alcoutim, alimentando os teares manuais existentes por todo o lado.

Em 1890 havia bastantes alcoutenejos que se prontificaram a experimentar o cultivo das variedades de linho a que se refere a Portaria do Ministério das Obras Públicas de 12 de Março daquele ano. Dessa lista constavam: - António José Madeira de Freitas, José Pedro Roiz Teixeira, Eduardo José Lopes, Joaquim José Lopes, Manuel da Palma Vilão, António Joaquim da Palma, António Cavaco, António Estevens, José Gomes Delgado Júnior, António Nobre, António Afonso Teixeira, Manuel Miguel e José Gomes.

[Tosando,(recriação). Foto JV, 2009]
Estão aqui representados os maiores lavradores do concelho encabeçados pelo pároco de Alcoutim.

Postura municipal do século passado proibia alagar linho nos pegos da Ribeira de Cadavais, o que veio a ser alargado a outros.

O Administrador do Concelho informa em 1874 que não tem grassado moléstia alguma em qualquer das espécies de gado, tendo contudo morrido três reses no monte da Palmeira e quatro nas Cortes Pereiras, aquelas há mais de um mês e estas há quinze dias e isto por terem bebido nos pegos onde se alaga linho e adoçam tremoços, por descuido dos rapazes que as guardavam.(1)

Semeava-se no princípio da Primavera e arrancava-se em fins de Julho, deixando-se em seguida secar.

[Fiando (recriação). Foto de JV, 2009]
Os teares eram de fabrico local e na grande maioria dos casos feitos de pinho, aparecendo também alguns de castanho e outros de eucalipto, isto segundo informações prestadas pelas poucas tecedeiras que existiam em 1977 a “entrevistas” feitas pelos alunos da 4ª classe das escolas dos Balurcos, Martim Longo e Palmeira. Ainda laboravam nesta altura teares em Casa Branca, Balurco de Cima, Palmeira, Tacões e Laborato, conforme se extrai dessas “entrevistas”.(2)

As tecedeiras trabalhavam o fio em tipos diversos de panos: - linho delgado, linho de fiado, redondo, estopas, toucas e toalhas.

Com o fuso se fiava, com a mãosoira batia-se e o sedeiro, cepo de madeira com dentes, separava o linho da estopa, são algumas das peças indispensáveis para a preparação da tecelagem.

Em 1877 a Administração do concelho possuía amostras de lã branca e preta e de linho com destino à Exposição de Paris. (3)

Penteadeiros, freguesia de Martim Longo onde trabalha ou trabalhou a última tecedeira do concelho e Premedeiros, zona rústica da freguesia de Alcoutim, são dois topónimos que poderão ter origem nesta actividade.

NOTAS

(1) - Ofício Nº94, de 21 de Setembro de 1874
(2) – Professoras Maria Odete do Rosário Campos (Martim Longo), Domingas Rosa Neto Gonçalves (Balurcos) e Maria Isabel Costa do Rosário Nunes (Palmeira)
(3) - Ofício nº 164 de 24 de Outubro de 1877