Este
monte, o mais pequeno da freguesia de Alcoutim, foi referido de uma forma leve
quando escrevemos e aqui publicámos um texto sobre os Balurcos dividido em
cinco partes.
É o
núcleo mais afastado daquilo a que é costume designar globalmente por Balurcos.
Para
o encontrarmos e no sentido Alcoutim – Pereiro, após alcançarmos o Cruzamento
ou Quatro Estradas, tomamos a estrada nº 124. Cerca de três quilómetros
andados, aparece-nos à esquerda uma rudimentar placa toponímica que nos indica
o sentido de Guerreirinhos. Lá seguimos a estreita estrada que foi asfaltada em
1994. Um quilómetro percorrido por aquela estreita via leva-nos ao monte dos Guerreirinhos ou Guerreiros dos Balurcos,
que se situa numa pequena elevação.
A
ligação com o Cercado e com o Deserto, ambos montes dos Balurcos, é feita por
mau caminho que se bifurca para um e outro lado.
Quanto ao topónimo sugere-nos
duas explicações. A que nos parece ser mais plausível
está relacionada com a família fundadora da pequena povoação, já que Guerreiro
é antropónimo muito vulgar no país, especialmente no Algarve e que por sua vez
deve ter origem na actividade bélica que vem de tempos imemoriais. Topónimo
próximo é Guerreiros do Rio no caso mais explícito. Além de Guerreiros do Rio,
existem mais duas povoações com o nome de Guerreiros, uma no concelho de
Almodôvar e outra no de Loures.
Em
1868 falece neste pequeno monte uma criança de nome António, filho de Maria
Custódia que tinha por profissão tecedeira. (1)
Sabemos também que um nefasto acontecimento ocorreu pelas nove
horas da noite do dia 17 de Março de 1883. Pairou sobre a freguesia de Alcoutim
uma forte trovoada, resultando cair “uma faísca eléctrica” no monte de Guerreiros
dos Balurcos e em casa de Manuel Gaspar, onde se achavam várias pessoas. Matou
instantaneamente um homem, mal feriu outro, assombrou ainda outro e matou uma
vaca que estava numa “arramada” próxima. (2)
Na
1ª Grande Guerra Mundial (1914/18) ficou prisioneiro dos alemães, Basílio
Pedro, que era daqui natural. (3)
Próximo,
a zona rústica do Bacelar de que ficou uma herdade que pertenceu a João Freire
de Andrade e mais tarde pelo casamento de sua filha ao Conde de Alcoutim, bens
que foram confiscados e que vieram a fazer parte da Casa do Infantado.
Em
1976 tinha treze habitantes que se abasteciam de um pequeno poço e havia forno
comunitário. Em finais do século passado eram quatro moradores em três fogos, já
existia energia eléctrica, um fontanário, dois telefones fixos e recolha de
lixo.
O
monte em 2010, última vez em que lá estivemos, mostrava-se bem cuidados havendo
até uma construção nova de 1º andar.
Na
nossa modesta opinião, o monte possui uma verdadeira relíquia, uma casa da
primeira metade do século passado, ao gosto regional e sem adulterações
visíveis e bem conservada.
O
pátio da fachada da frente, os trabalhos de argamassa na porta e nas janelas,
os desenhos geométricos e a cor utilizada, são bem característicos da época que
referimos e onde são notórias influências do litoral algarvio.
A
casa da esquerda, das únicas abandonadas na pequena povoação, ainda que a
tivéssemos conhecido em situação de abandono, devia ter constituído uma boa
construção para a época e hoje ainda se consegue descortinar, sobre o lintel, a
era de 1912 que possivelmente teria sido a da sua construção. Talvez tivesse
pertencido à família de maior poder económico lá existente na altura.
NOTAS
(1)
– Assento de óbito nº 28 de 3 de Julho de 1868.
(2)
– “Algumas intempéries alcoutenejas nos últimos dois séculos”, José Varzeano, Jornal Escrito de Junho de 2001. Em 2009
ainda falámos no monte com um descendente dos donos da casa onde isto aconteceu
e ficou muito admirado de termos conhecimento do assunto.
(3)
– Informação prestada pelo Sr. António Patrocínio dos Santos de Alcoutim que
também foi mobilizado para esta conflagração mundial, servindo como maqueiro.
Pequena nota em 22.09.2012
Da nossa assídua visitante / leitora, D. Almerinda Martins, recebemos a seguinte informação:
…: o Sr. Basilio Pedro era de Guerreiros do Rio, (eu chamava
–lhe padrinho, porque as 2 filhas eram minhas madrinhas, uma de registo outra de
batismo). Posso-lhe adiantar que ele foi para a guerra em 1916, na batalha de
Lalys, numa emboscada às tropas portuguesas no dia 9/4/1917 foi feito
prisioneiro, ficando até ao dia em que a Alemanha se rendeu, muitos morreram,
ele teve a sorte de voltar e eu ouvia-lhe as histórias que contava sobre o que lá passou, principalmente
enquanto prisioneiro.
Quando li que ele era de lá fiquei com dúvidas, pois nunca
tinha ouvido falar que ele não fosse dos Guerreiros do Rio, então confirmei com
um dos filhos e tb acessei ao registo de nascimento. (assento nº 13 de
30.01.1897, freguesia e concelho de Alcoutim).
Muito agradeço a informação prestada que vem colocar as coisas no devido lugar e a bem da verdade.
JV