quinta-feira, 26 de julho de 2012

Matos, freguesia do Pereiro, o monte ressuscitado!



Tenho procurado conhecer todos os montes do concelho de Alcoutim, mesmo os mais inóspitos. Primeiro foram os mais próximos da vila, principalmente aqueles que tinham via de acesso. O primeiro que visitei foi o da Corte das Donas, seguiram-se Cortes Pereiras e Afonso Vicente. Numa segunda fase, Marmeleiro, Corte da Seda, Balurco de Baixo e os montes do Rio, o que fiz por estrada e que representava mais de duas dezenas de quilómetros.

Não é esta estória que pretendo abordar, mas sim, o ultimamente badalado “monte” dos Matos, freguesia do Pereiro.

Confesso que nunca lá tinha ido, pois além de estar completamente desabitado, o acesso não era convidativo e por me informarem que tinha sido um monte muito pequeno.

Não foi por isso que o deixei de incluir no meu trabalho, A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim), do passado e do presente, 2007, numa edição exclusiva da Junta de Freguesia do Pereiro que não contou com qualquer subsídio, ainda que solicitado.

Pode orgulhar-se a Junta de Freguesia do Pereiro de ser a única do concelho e das únicas da Serra do Caldeirão, que possui uma “monografia”, ainda que modesta.

Agora que tudo indica que o Governo a irá extinguir, ficará para memória dos vindouros este trabalho que lembrará aos descendentes daqueles que nela nasceram, como foi a freguesia dos seus antepassados.

Transcrevemos o que escrevemos a páginas 246 e 247.

H – MATOS

Topónimo que não necessita de explicação, tal a sua evidência.

Podemos alcançar este monte que se encontra desabitado mas que em 1992 nos dizem ainda ter tido dois habitantes, por um caminho que parte de (...)

Em 1775/76 exercia a função de fabriqueiro (tesoureiro) da Igreja, Miguel da Palma, aqui residente e sabemos que em 1884 constavam do recenseamento escolar, três crianças do sexo masculino residentes neste monte.

Em 1946, por proposta do presidente da Junta de Freguesia, Diogo Xavier da Palma, é aprovado o arranjo do poço, onde trabalharam, além de outros, os residentes Manuel António e Manuel João.

Além disso, indiquei três cidadãos daqui naturais que foram mobilizados para a Guerra Colonial.

Hoje sei que a pequena povoação já é referida nas Memórias Paroquiais de 1758.

Atendendo às notícias vindas a público na imprensa regional em vários jornais e mesmo em diários a nível nacional e aproveitando uma visita ao concelho, percorri cerca de 50 km, propositadamente, para o ir finalmente visitar. Segundo as indicações, parecia estar em desenvolvimento.

Fui no meu veículo, paguei a gasolina e não recebi ajudas de custo.

Procurei o monte que lhe dá acesso, pois sabia que era a partir de lá que se poderia alcançar. Ainda hesitei meter por ali o automóvel que não é nenhum jipe. Lá fui passando, temendo sempre que algum dos moradores viesse em sentido contrário, pois se assim acontecesse, iria haver complicação para nos cruzarmos. Felizmente isso não aconteceu.

Depois de umas centenas de metros percorridos e após uma leve subida, lá o descortinei ao fundo

É referido o regresso dos filhos à terra depois de muitos anos de abandono, para passar os últimos dias de vida na terra que os viu nascer.

São apontadas duas famílias que têm o desejo de voltar. Vê-se na situação o repovoamento e na electrificação a grande ajuda e para a qual está previsto um investimento de 43.000 euros.

Confesso que não consegui ver vivalma. Nem os tradicionais cães apareceram dando sinal de um intruso.

Vi na realidade um prédio restaurado, a água da fachada fronteira, ao gosto antigo, a da retaguarda numa situação mais moderna.


Lá está o poço apetrechado de bomba manual elevatória que presumo funcionar, ainda que não lhe tivéssemos tocado. Era dele que a população se abastecia e penso que o mesmo sucederá hoje.

Não acredito no repovoamento deste monte nem de qualquer outro, o que vai acontecer é que a desertificação irá acelerar, aqui e em todo o interior do país, mas principalmente aqui como as últimas estatísticas demonstram.

Um fenómeno semelhante está a acontecer, mas por razões diferentes, nos centros históricos e que eram o pulsar da vida, das velhas cidades. Era ali que vivia grande parte da população e onde se concentrava o comércio. Na periferia das cidades não havia nada.


O traçado medieval destas zonas não facilita a circulação automóvel e os locais de estacionamento são poucos e estão sempre ocupados. As velhas construções, muitas delas ainda com muita madeira, não têm condições de habitabilidade e algumas com o abandono e o rodar do tempo estão em ruína e as derrocadas surgem. Por esses locais não mora ninguém e o comércio existente começa a fechar as portas por falta de clientes.

As populações fixaram-se na periferia das cidades e levaram atrás de si o comércio.

Deverão ser cerca de seis os montes completamente desabitados no concelho de Alcoutim, depois uns tantos com menos de seis habitantes e a grande maioria terá menos de uma dúzia. Por mais que se queira fazer crer, não há varinha mágica que mude esta situação. As próprias sedes de freguesia estão definhando e raramente alguém regressa definitivamente ao seu local de origem, após a reforma e até aqueles que podiam aqui exercer a sua actividade profissional, nomeadamente na vila, não o procuram fazer e estão no seu pleno direito.

NÃO HÁ DUAS VERDADES.