Tenho procurado conhecer todos os
montes do concelho de Alcoutim, mesmo
os mais inóspitos. Primeiro foram os mais próximos da vila, principalmente
aqueles que tinham via de acesso. O primeiro que visitei foi o da Corte das
Donas, seguiram-se Cortes Pereiras e Afonso Vicente. Numa segunda fase,
Marmeleiro, Corte da Seda, Balurco de Baixo e os montes do Rio, o que fiz por
estrada e que representava mais de duas dezenas de quilómetros.
Não é esta estória que pretendo
abordar, mas sim, o ultimamente badalado “monte” dos Matos, freguesia do
Pereiro.
Confesso que nunca lá tinha ido,
pois além de estar completamente desabitado, o acesso não era convidativo e por
me informarem que tinha sido um monte muito pequeno.
Não foi por isso que o deixei de
incluir no meu trabalho, A Freguesia do
Pereiro (do concelho de Alcoutim), do passado e do presente, 2007, numa
edição exclusiva da Junta de Freguesia do Pereiro que não contou com qualquer
subsídio, ainda que solicitado.
Pode orgulhar-se a Junta de
Freguesia do Pereiro de ser a única do concelho e das únicas da Serra do
Caldeirão, que possui uma “monografia”, ainda que modesta.
Agora que tudo indica que o Governo
a irá extinguir, ficará para memória dos vindouros este trabalho que lembrará
aos descendentes daqueles que nela nasceram, como foi a freguesia dos seus
antepassados.
Transcrevemos o que escrevemos a
páginas 246 e 247.
H – MATOS
Topónimo que não necessita de explicação, tal a sua evidência.
Podemos alcançar este monte que se encontra desabitado mas que em 1992
nos dizem ainda ter tido dois habitantes, por um caminho que parte de (...)
Em 1775/76 exercia a função de fabriqueiro
(tesoureiro) da Igreja, Miguel da Palma, aqui residente e sabemos que em 1884 constavam
do recenseamento escolar, três crianças do sexo masculino residentes neste
monte.
Em 1946, por proposta do presidente da Junta de Freguesia, Diogo Xavier
da Palma, é aprovado o arranjo do poço, onde trabalharam, além de outros, os
residentes Manuel António e Manuel João.
Além disso, indiquei três cidadãos daqui naturais que foram
mobilizados para a Guerra Colonial.
Hoje sei que a pequena povoação já é referida nas Memórias
Paroquiais de 1758.
Atendendo às notícias vindas a público na imprensa regional em
vários jornais e mesmo em diários a nível nacional e aproveitando uma visita ao
concelho, percorri cerca de 50
km , propositadamente, para o ir finalmente visitar. Segundo
as indicações, parecia estar em desenvolvimento.
Fui no meu veículo, paguei a gasolina e não recebi ajudas de
custo.
Procurei o monte
que lhe dá acesso, pois sabia que era a partir de lá que se poderia alcançar.
Ainda hesitei meter por ali o automóvel que não é nenhum jipe. Lá fui passando,
temendo sempre que algum dos moradores viesse em sentido contrário, pois se
assim acontecesse, iria haver complicação para nos cruzarmos. Felizmente isso
não aconteceu.
Depois de umas centenas de metros percorridos e após uma
leve subida, lá o descortinei ao fundo
É referido o regresso dos filhos à terra depois de muitos
anos de abandono, para passar os últimos dias de vida na terra que os viu
nascer.
São apontadas duas famílias que têm o desejo de voltar.
Vê-se na situação o repovoamento e na electrificação a grande ajuda e para a
qual está previsto um investimento de 43.000 euros.
Confesso que não consegui ver vivalma. Nem os tradicionais
cães apareceram dando sinal de um intruso.
Vi na realidade um prédio restaurado, a água da fachada
fronteira, ao gosto antigo, a da retaguarda numa situação mais moderna.
Lá está o poço apetrechado de bomba manual elevatória que
presumo funcionar, ainda que não lhe tivéssemos tocado. Era dele que a
população se abastecia e penso que o mesmo sucederá hoje.
Não acredito no repovoamento deste monte nem de qualquer
outro, o que vai acontecer é que a desertificação irá acelerar, aqui e em todo
o interior do país, mas principalmente aqui como as últimas estatísticas
demonstram.
Um fenómeno semelhante está a acontecer, mas por razões
diferentes, nos centros históricos e que eram o pulsar da vida, das velhas
cidades. Era ali que vivia grande parte da população e onde se concentrava o
comércio. Na periferia das cidades não havia nada.
O traçado medieval destas zonas não facilita a circulação
automóvel e os locais de estacionamento são poucos e estão sempre ocupados. As
velhas construções, muitas delas ainda com muita madeira, não têm condições de
habitabilidade e algumas com o abandono e o rodar do tempo estão em ruína e as
derrocadas surgem. Por esses locais não mora ninguém e o comércio existente
começa a fechar as portas por falta de clientes.
As populações fixaram-se na periferia das cidades e levaram
atrás de si o comércio.
Deverão ser cerca de seis os montes completamente
desabitados no concelho de Alcoutim, depois uns tantos com menos de seis
habitantes e a grande maioria terá menos de uma dúzia. Por mais que se queira
fazer crer, não há varinha mágica que mude esta situação. As próprias sedes de
freguesia estão definhando e raramente alguém regressa definitivamente ao seu
local de origem, após a reforma e até aqueles que podiam aqui exercer a sua
actividade profissional, nomeadamente na vila, não o procuram fazer e estão no
seu pleno direito.
NÃO HÁ DUAS VERDADES.