terça-feira, 27 de novembro de 2012

A esparrela


Esparrela é uma armadilha de caça que tem outras designações conforme as zonas do país. É constituída por dois arcos de arame em semicírculo e iguais, havendo um que se desloca para a posição oposta que é envolto por uma espécie de gatilho e tranca numa pequena argola, ficando assim sobre pressão motivado por uma mola de reduzidas dimensões.

Destina-se à apanha de passarada, como cotovias, boieiros, calhandras e arvelas ou qualquer outro que accione o sistema.

Em tempos que já lá vão, era muito utilizada pelos homens quando andavam a alqueivar a terra preparando-a para as novas sementeiras.

Ao abrir os regos, levantando a terra que possuía alguma humidade, as larvas começam a aparecer e a passarada apresta-se para se alimentar.

Conhecedor da situação, o “ganhão” não deixava de levar as suas esparrelas que ia armando pelos regos, camuflando-as com terra, deixando só à vista o travão do gatilho.

O isco mais usado e eficiente era uma larva que se extraía da esteva já velha, cuja ponta se partia e de onde se recolhia uma ou duas com cerca de um centímetro de comprimento, Atava-se pela cabeça ao travão do gatilho, ficando o “rabo” liberto para se movimentar, chamando assim a atenção da presa, que ao pretender comer a pequena lagarta accionava o mecanismo, ficando entalada nas duas peças semicirculares.

Para se apanhar as arvelas, a esparrela tinha que se colocar em posição invertida, porque de outra maneira comia a larva, o disparo fazia-se, mas ela, devido à posição inicial, escapava-se.

Outra época procurada para o uso da esparrela era durante a apanha da azeitona que se armava debaixo das oliveiras e o engodo era a azeitona. Destinava-se a apanhar os tordos, aves já um pouco maiores.

Não posso deixar de referir um facto que minha mulher ainda hoje conta.

Quando tinha três ou quatro anos, em casa de seus pais trabalhava um “ganhão” a quem chamava ti Chico.

Na época do alqueive, o trabalhador ao regressar a casa trazia-lhe sempre um passarinho que assava no “fogo” feito para confeccionar as refeições e ao mesmo tempo aquecer o ambiente.

O contrato era sempre o mesmo, a cabeça era para o caçador.

A pequenita, quando ele chegava, procurava-lhe nos bolsos o pássaro que sabia que ele trazia, apesar de dizer que não. Recordações de infância que não esquecem.