sábado, 17 de novembro de 2012

Álamo, onde os romanos deixaram mais vestígios


É o último dos “montes do rio” que vamos abordar distando 12,5 km de Alcoutim, freguesia a que pertence mas apenas a quilómetro e meio do vizinho Guerreiros do Rio.

Se estivermos a percorrer a estrada marginal (E.M. 507) ao sair dos Guerreiros do Rio encontramos, após uma leve subida, uma rotunda cuja primeira saída nos leva à Corte das Donas e a segunda ao Álamo, continuando assim a estrada marginal.


Rotunda do Álamo. Foto L.M.
As várzeas do rio aqui são mais extensas, constituindo bons locais de cultivo onde vicejam vinhas e abundam oliveiras, figueiras e outro arvoredo frutícola.

Esta zona devido à sua localização e características do terreno foi sempre procurada para a fixação dos povos, entre os quais visigodos, romanos e árabes que por aqui foram passando em procura de melhores condições de vida. Talvez, por isso, por aqui tenham sido encontrados os mais importantes achados arqueológicos.

Entrada da povoação pelo lado Norte. Foto JV
Estácio da Veiga indica-o como sede de “povoação romana extinta ou arrasada” (1), mas desconhece-se o nome que teria tido, tanto esta como as povoações vizinhas já ocupadas em épocas distantes.

O “muro velho”, como o povo do monte lhe chama, constituiu uma represa ou barragem que os romanos construíram no barranco da Fornalha. Foi Estácio da Veiga que a identificou em 1877, mandando levantar uma planta.

O muro deveria ter tido no início um comprimento de cerca de 50 metros, possuindo actualmente a altura máxima de 3 e a espessura da mesma medida (2) e com contrafortes. O topo do muro tem cerca de 2,3 m e os sete contrafortes estão afastados uns dos outros igualmente 2,3 m. A espessura é de metro e meio e o comprimento de 1,6 m.

Ruínas da barragem romana
 
Presume-se que a barragem tivesse tido uma capacidade de 2.100 m3.

É uma obra hidráulica de alguma dimensão, possivelmente para servir a povoação romana, que deverá ter existido nas redondezas e de que Estácio da Veiga fornece mais alguns dados.

A muralha, devido à técnica de construção, tem-se mostrado de uma solidez impressionante e o povo considera-a “eterna”.

Este monumento foi classificado como imóvel de interesse público pelo Decreto nº 26-A/92, de 1 de Junho.

Estátua de Apolo
Estácio da Veiga explorou, igualmente, o resto de um edifício romano denominado a “Igreja”, formado por vários compartimentos rectangulares. Um pouco ao sul, mais casas arrasadas com sepulturas romanas escavadas nos pavimentos. Foram aqui encontradas três estátuas fragmentadas, sendo uma de divindade (3), mais propriamente de Apolo, em mármore com 1,69 de altura. Está representado nu, apoiado a um tronco de árvore onde repousa a correia e a aljava. Faltam-lhe a cabeça e os dois braços. Encontra-se no Museu Nacional de Arqueologia com o nº de inventário E – 5467.

Encontra-se presentemente no núcleo museológico de arqueologia no castelo de Alcoutim uma réplica desta estátua.

Foi recolhida ainda alguma cerâmica.

Sondagens feitas num velho caminho detectaram uma via romana.

Muitos objectos têm sido destruídos pelos achadores que desconhecem o valor arqueológico que possuem, talvez hoje não tanto, mas em 1970 ainda ouvimos contar destes achados e mesmo a descrição de algumas peças que depois foram partidas. Isto acontecia, normalmente, quando andavam a lavrar.

Segundo nos afirmaram recentemente, o Álamo é o monte em que vivem mais estrangeiros de todos os considerados “montes do Rio”.

O casario do “monte” estende-se alcandorado pela encosta. Notam-se algumas casas típicas com platibandas e fachadas trabalhadas em argamassa e policromadas.

Chama-nos a atenção um interessante exemplar bem restaurado, tendo sido informado que é obra de estrangeiros, que de uma maneira geral preservam aquilo que nós não somos capazes de fazer.

Interessante construção do primeiro quartel do século passado
e que estrangeiros preservaram. Foto JV

Na década de 70 do século passado existia um forno de cozer pão comunitário. Era conhecida a arte de fazer cadeiras e da cestaria.
 
A povoação já beneficia do saneamento básico. Anteriormente a água era distribuída por nove fontanários e antes disso por dois poços públicos.

As crianças iam à escola que se situava nos Guerreiros do Rio por ser o monte mais central.

Em 1939 a Câmara tinha pedido a criação de um posto de ensino escolar. (4)

Em 1991 foi concluída a pavimentação dos arruamentos (5) que após o saneamento básico tiveram novamente de ser pavimentados.

Tal como na maioria dos montes da freguesia, existia uma Lutuosa.

Em meados do século passado funcionavam na povoação dois estabelecimentos comerciais.

A povoação vista do Sul. Foto JV
 
O “Álimo” como o pároco de Alcoutim o indica no questionário formulado em 1758 e que ficou a constituir as Memórias Paroquiais, é dado como tendo 15 vizinhos.

Em 1839, segundo Silva Lopes, apresentava 21 fogos e no recenseamento de 1991 era dos montes do rio o mais populoso, com sessenta e quatro moradores e cinquenta e sete fogos.

Em frente, no outro lado do rio, a propriedade rústica conhecida por “Fonte Santa”.

O topónimo prende-se naturalmente à flora. Álamos (ou choupos) são por aqui vulgares, junto ao rio.

A linha limite da freguesia, segundo ouvimos dizer, passa por este lado passa, ao Barranco das Pereiras, onde nas proximidades funcionava um posto da Guarda-Fiscal e que foi construído em 1890.
 
Seguindo a marginal, vamos encontrar um novo monte. mas já pertencendo ao concelho de Castro Marim, a Foz de Odeleite, cujo posto pertencia à Secção da Guarda Fiscal de Alcoutim.

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NOTAS

(1) - Carta Archeológica do Algarve.

(2) - Aproveitamentos Hidráulicos Romanos a Sul do Tejo, António de Carvalho Quintela, José Luís Cardoso e José Manuel Mascarenhas, 1986.

(3) - Arqueologia Romana do Algarve, Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso dos Santos, 1971.

(4) - Acta da Sessão da C.M.A. de 2 de Dezembro.

(5) - Boletim Municipal, Nº 8 de Abril / 91.