sábado, 24 de novembro de 2012

Como eu vi Odivelas

 

Escreve

M Dias


Considerei um “mal necessário” ter de vir viver para Odivelas no início da década de 80.

Não gostei da pequena vila, apertada num vale, entre serras, por onde corre o Rio da Costa.

Ao longo deste rio, estende-se uma comprida várzea que vem da Pontinha à Póvoa de Sto Adrião. Na frente de Odivelas, virada de costas para Lisboa, viam-se grandes couvais e outras hortaliças, que se dizia, alimentavam o Hospital de Santa Maria...

O acesso principal à vila era feito por uma pequena e velha ponte que me fazia estremecer sempre que a chuva fazia transbordar o rio.

Os transportes públicos resumiam-se a autocarros da Rodoviária Nacional. Era um martírio matinal e ao fim do dia passar a garganta estreita do Sr. Roubado.

Senhor Roubado

Nesse tempo chegava mais depressa um burro a Lisboa do que um Porshe subindo a Calçada de Carriche a essas horas.

Os habitantes diziam: “vou a Lisboa...”, como se esta fosse uma cidade longínqua, e iam “apanhar a carreira...”!

Esta característica rural, a par do seu importante núcleo histórico, agradava-me.

Existiam apenas um cinema, um velho campo de futebol, a Sociedade Musical e o pavilhão Olaio, onde se praticavam algumas modalidades desportivas.

Pelas encostas iam surgindo urbanizações com prédios mais confortáveis e coloridos, embora quase sempre implantados em “terrenos baldios”., pois a urbanização ficava com a estrada que lhe dava acesso e pouco mais.

O meu bairro ENCANTOU-ME! Construído no cimo de uma pequena encosta verdejante e luminosa, servido por duas largas estradas, ouviam-se os chocalhos das vacas, o patear das mulas e machos e o cantar dos galos ao amanhecer. Os novos moradores eram na maioria jovens. Conhecíamo-nos de vista e cumprimentávamo-nos. Encontrávamo-nos no único mas moderno parque infantil onde brincavam os nossos rebentos.

Sentia-me numa pequena aldeia, aos pés de uma grande cidade e o regresso a casa embora penoso, valia a pena! Dava até para esquecer o cheiro nauseabundo do rio e da fábrica do sebo que em certas direcções do vento chegava a meio da encosta.
Odivelas de hoje

Ao contrário de mim que fui perdendo juventude e energia, ODIVELAS é hoje uma CIDADE, Sede de Concelho, rodeada e atravessada por belíssimos acessos de e para todo o País, uma linha de Metropolitano e razoáveis transportes de superfície.

Tudo isto surgiu em cerca de 30 anos!

Perdeu, é certo muito da sua ruralidade mas ganhou em qualidade de vida. Falta-me falar ainda do grande salto na cultura, no lazer, na diversidade dos seus actuais habitantes e nos apoios sociais. Ficará com certeza para uma próxima oportunidade.

Mas, atrevo-me ainda a sugerir: a “cereja em cima do bolo” seria mesmo a recuperação e embelezamento da nossa frente ribeirinha. Será demais pedir um “mini-Parque das Nações”? (já temos um começo... para quando a continuação?)