Escreve
M Dias
Considerei um “mal
necessário” ter de vir viver para Odivelas no início da década de 80.
Não gostei da pequena
vila, apertada num vale, entre serras, por onde corre o Rio da Costa.
Ao longo deste rio,
estende-se uma comprida várzea que vem da Pontinha à Póvoa de Sto Adrião. Na
frente de Odivelas, virada de costas para Lisboa, viam-se grandes couvais e
outras hortaliças, que se dizia, alimentavam o Hospital de Santa Maria...
O acesso principal à vila
era feito por uma pequena e velha ponte que me fazia estremecer sempre que a
chuva fazia transbordar o rio.
Os transportes públicos
resumiam-se a autocarros da Rodoviária Nacional. Era um martírio matinal e ao
fim do dia passar a garganta estreita do Sr. Roubado.
Senhor Roubado |
Nesse tempo chegava mais
depressa um burro a Lisboa do que um Porshe subindo a Calçada de Carriche a
essas horas.
Os habitantes diziam:
“vou a Lisboa...”, como se esta fosse uma cidade longínqua, e iam “apanhar a carreira...”!
Esta característica
rural, a par do seu importante núcleo histórico, agradava-me.
Existiam apenas um
cinema, um velho campo de futebol, a Sociedade Musical e o pavilhão Olaio, onde
se praticavam algumas modalidades desportivas.
Pelas encostas iam
surgindo urbanizações com prédios mais confortáveis e coloridos, embora quase
sempre implantados em “terrenos baldios”., pois a urbanização ficava com a
estrada que lhe dava acesso e pouco mais.
O meu bairro ENCANTOU-ME!
Construído no cimo de uma pequena encosta verdejante e luminosa, servido por
duas largas estradas, ouviam-se os chocalhos das vacas, o patear das mulas e
machos e o cantar dos galos ao amanhecer. Os novos moradores eram na maioria
jovens. Conhecíamo-nos de vista e cumprimentávamo-nos. Encontrávamo-nos no
único mas moderno parque infantil onde brincavam os nossos rebentos.
Sentia-me numa pequena
aldeia, aos pés de uma grande cidade e o regresso a casa embora penoso, valia a
pena! Dava até para esquecer o cheiro nauseabundo do rio e da fábrica do sebo
que em certas direcções do vento chegava a meio da encosta.
Odivelas de hoje |
Ao contrário de mim que
fui perdendo juventude e energia, ODIVELAS é hoje uma CIDADE, Sede de Concelho,
rodeada e atravessada por belíssimos acessos de e para todo o País, uma linha
de Metropolitano e razoáveis transportes de superfície.
Tudo isto surgiu em cerca
de 30 anos!
Perdeu, é certo muito da
sua ruralidade mas ganhou em qualidade de vida. Falta-me falar ainda do grande
salto na cultura, no lazer, na diversidade dos seus actuais habitantes e nos
apoios sociais. Ficará com certeza para uma próxima oportunidade.
Mas, atrevo-me ainda a
sugerir: a “cereja em cima do bolo” seria mesmo a recuperação e embelezamento
da nossa frente ribeirinha. Será demais pedir um “mini-Parque das Nações”? (já
temos um começo... para quando a continuação?)