[A Capela de Santa Justa. Aspecto actual. Foto JV, 2010]
Quando aqui abordámos o “monte” de Santa Justa, em 22 de Dezembro de 2008 e com o título Santa Justa, um monte maior que algumas aldeias ,referimos, como não podia deixar de ser, a capela cuja padroeira deu nome à povoação.
Tudo indica que a devoção a Santa Justa deu origem ao topónimo, devoção que originou a erecção de um pequeno templo ainda hoje existente.
Santa Justa e a sua irmã Rufina vendiam na feira as louças que o pai fabricava.
Festejam-se a 19 de Julho e são padroeiras de Burgos e de Sevilha. (1)
Estará isto relacionado com a arte de olaria que existia na sede da freguesia? Pensamos que sim mas faltam as provas. A olaria teria tido origem neste monte e depois passado para Martim Longo? Não sabemos, estamos só formulando conjecturas.
Sabe-se, contudo, que no sítio dos Telheiros, numa pequena elevação, próximo do caminho para Santa Justa, existiram fornos de olaria, de que restam ruínas onde a Professora Doutora Helena Catarino recolheu fragmentos de cerâmica de época tardo-medieval e moderna. (2)
A Capela de Santa Justa já se diz no século XVI que he huma capella muito antiga que não há memória do tempo que se edifiquou.
Era administrada por uma confraria e de que existem livros de Receitas e Despesa de (1663-1690) e (1701-1827)
Na altura, tinha paredes de pedra e barro, telhado de telha vã, sendo mais larga que comprida. Um altar pequeno de alvenaria coberto com umas toalhas e nele a imagem esculpida de Santa Justa, já muito velha.
Tinha madeira para fazer um alpendre e era reparada à custa de esmolas dos devotos. (3)
O retábulo foi colocado no altar em 1682/83 e em 1744 foi repintado.
[Santa Justa]
Além da imagem mais antiga, tinha outra que foi “renovada e encarnada” em 1687/88 e novamente em 1746. Tem uma coroa simples. (4)
A Ermida de Santa Justa é referida nas Memórias Paroquiais de 1758, afirmando-se que fica a uma “légua pequena” de distância, não tem romagem (romaria) e só por acaso lá vai alguma pessoa fora dos dias das suas festas.
Em 1878 o Administrador do Concelho oficia ao Prior Presidente da Junta de Paróquia no sentido deste lhe enviar com a brevidade possível o orçamento dado por peritos para as obras a fazer na Ermida de Santa Justa, obras já contempladas no orçamento da Junta. (5)
[A Capela de Santa Justa em 1988. Foto JV]
Conhecemos a ermida já lã vão uns bons anos e a foto que apresentamos a preto e branco é dessa altura.
Beneficiou recentemente (2007) de um restauro, com o apoio da Câmara Municipal e que montou a 22.203,00 € (6)
O restauro manteve toda a sua estrutura exterior mas não a conhecemos interiormente.
A planta é quase quadrada pois tem 7, 50 m de comprimento por 6,20 de largura e em que não se inclui um anexo de construção posterior.
A fachada é de empena de bico que acompanha as duas águas do telhado e que têm uma inclinação muito pronunciada. No restauro a telha foi renovada.
A cruz de ferro que se encontrava no bico da fachada foi substituída por outra de material diferente e ficou desproporcionada em relação à volumetria do templo.
A porta tem 0,80x1,80 m, é de madeira e de duas folhas, mantendo-se por cima o trabalho de argamassa semelhante, por exemplo, aos existentes na chamada Casa dos Condes e aos que existiam no edifício que serviu os serviços fiscais do concelho e na desaparecida casa nobre do Padre António, no local onde se encontra hoje a farmácia da vila. Este tipo de embelezamento foi muito usado no século XIX.
Foram mantidos também a cruz em relevo e os dois botaréus para suporte das paredes e como era próprio da época.
Um deles, com a largura de 1,10 m suporta a parede do lado da epístola, tendo sido levantado ao meio dela. O outro aguenta a parede traseira, é um pouco mais largo e tem uma configuração diferente.
[Janela gradeada. Foto JV, 2010]
As linhas e estruturas assemelham-se às das capelas do Espírito Santo e S. Sebastião, na aldeia de Martim Longo.
Conservou-se a janela gradeada de 0,50x0,80m e de madeira semelhante à da porta.
A capela possui um grande adro e construiu-se um palco para actuações artísticas na altura dos festejos em honra da Padroeira.
O prédio foi inscrito na competente matriz predial sob o nº 1524.
[Capela de Santa Justa vista das traseiras. Foto JV, 2010]
NOTAS
(1)–Dicionário de Santos, Jorge Campos Tavares, Porto, 1990, p.89.
(2)–“O Algarve Oriental durante a ocupação islâmica”, Helena Catarino, in Ulyã, Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 6, 1997/98, págs. 196 e 712.
(3)–“Visitações” da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio”, Hugo Cavaco, 1987, p.317.
(4)-A Escultura de Madeira no concelho de Alcoutim do Séc. XVI ao séc. XIX., -Francisco Lameira e Manuel Rodrigues, 1985, p. 35.
(5)-Of. nº 178 de 28 de Julho do Presidente da Junta de Paróquia.
(6)–Alcoutim, Revista Municipal, nº 14 de Janeiro de 2008, p. 26.