quarta-feira, 2 de junho de 2010

Como figo maduro (Poema)

Pequena nota
Temos o prazer de apresentar aos nossos visitantes/leitores, mais um poema recente do nosso colaborador, José Temudo.
Quem conhece as suas vivências não lhe passará despercebida a passagem por Alcoutim e que o marcou pela vida fora como aqui se tem mostrado tanto na poesia como na prosa.

JV






José Temudo






Em boa verdade,
saudades
foi o que fui semeando,
cultivando e colhendo
ao longo da vida,
quase sempre, colorida,
diversa,
por vezes, sofrida,
amiúde, divertida,
aqui e além, controversa.

Saudades
de lugares onde vivi,
de pessoas que conheci
e que estimei;
lugares a que jamais voltei,
pessoas que nunca mais vi
mas sempre recordei!

E, agora,
na minha derradeira hora,
como figo maduro,
à espera de ser colhido,
não é que tenho sofrido
com absurdas saudades do futuro?

Daquilo que está por vir,
desse excitante mundo novo,
contido no mistério de um ovo
que os amanhãs virão abrir?

Saudades dos netos que hão-de vir,
desses ramos que hão-de nascer,
crescer
e florir?

Saudades do que não irei ver,
saudades do que me faria sorrir?

Saudade
ou a inútil vontade
de não querer partir?



Vila do Conde, 20 de Fevereiro de 2010