[O Poço das Figueiras em 1973. Foto de JV]
Ao falar de poços e demais com um sentido histórico, temos que colocar em primeiro lugar o das Figueiras.
Até há uns anos, era o mais conhecido, procurado e querido da população. A sua existência perde-se no recuar dos anos.
Situado na margem direita da Ribeira de Cadavais, beneficiará certamente da infiltração das águas desta e é propriedade municipal.
Sendo durante séculos o principal fornecedor do precioso líquido à população, foi em 1965 relegado para plano secundário, pois os técnicos optaram pela abertura de um novo que no seu entender teria maior caudal.
Não foi preciso muito tempo para se verificar o erro e em breve teve que se recorrer novamente a ele para colmatar as falhas frequentes do Poço do Pego do Corvo.
Em 1844, a Câmara deliberou que se mandasse fazer um bocado de calçada junto do poço das Figueiras para que os habitantes pudessem a ele chegar comodamente. (1)
Em 1874, em reunião municipal é deliberado aprofundá-lo e um ano depois o médico local chama a atenção do município no sentido de evitar a falta de água potável aos habitantes da vila, já que apenas o poço das Figueiras a tem, todos os demais estão secos e por conseguinte, era necessário providenciar para se abrir outro, lembrando ele, para o efeito, o sítio da Fonte da Serra, onde sempre tem havido água abundante.
O Administrador do concelho chamou a atenção à Edilidade que junto do mesmo poço, quando chove, se forma um lago cujas águas desaguam por infiltração para o poço, tornando as deste insalubres, o que era conveniente evitar. (2)
A Câmara em 1888 dirigiu-se ao Director da Mina de S. Domingos requisitando uma bomba para esgotar um dos poços públicos da vila, o qual, prestando-se com a melhor vontade, não só acedeu ao pedido como fez acompanhar a bomba de dois empregados para a montar e prestar qualquer serviço necessário para obter esse fim, tudo isto sem qualquer dispêndio. (3)
Em 1926 o médico municipal declarou imprópria para consumo a pouca água existente nos três poços públicos que abasteciam a vila. A Comissão Administrativa deliberou convidar o povo para o seu esgotamento e proceder à limpeza interna, o que se veio a verificar. (4)
Anos depois (1935), ao ser limpo o poço, principal abastecedor da vila como é do conhecimento geral, abateu em parte, oferecendo perigo de uma derrocada total, não podendo, por isso, a população efectuar o seu abastecimento normal. Propunha então, o Presidente da Comissão que imediatamente se procedesse ao seu arranjo nas seguintes condições: - desmanchar o resto do empedrado que ameaçava ruir, empedrá-lo de novo na sua totalidade, com o auxílio de cal e cimento. Aprofundá-lo depois pelo menos mais um metro. Levantar a calçada que o rodeava e fazê-la novamente em cimento para que de futuro não houvesse infiltrações. Fazer de novo o poial à sua volta. (5)
O problema da salubridade é novamente levantado em 1939. O Delegado de Saúde intima a Câmara na pessoa do seu presidente a proceder à limpeza imediata e urgente do poço, visto o seu estado oferecer perigo para a saúde pública, o que veio a ser feito. (6)
Em tempos, à tardinha, era uma romaria a caminho do poço. Cântaros à cabeça ou nos quadris eram transportados por mulheres e moças, enquanto os homens e moços os colocavam aos ombros. Havia mesmo quem se dedicasse ao comércio da água utilizando animais de raça asinina para o transporte em cântaros colocados em cangalhas. A venda fazia-se às cargas.
Quantos derriços tiveram por palco este trajecto?
Notas
(1) - Acta da Sessão da C.M.A. de 8 de Setembro de 1844.
(2) - Acta da Sessão da C.M.A. de 19 de Setembro de 1879.
(3) - Acta da Sessão da C.M.A. de 11 de Junho de 1888.
(4) - Acta da Sessão da C.M.A. de 21 de Outubro de 1926.
(5) - Acta da Sessão da C.M.A. de 22 de Agosto de 1935.
(6)- Acta da Sessão da C.M.A. de 8 de Junho de 1939