[Montinho da Revelada. Vista geral. Foto JV]
Vamos abordar hoje um pequenino monte situado a 3 km da sede de freguesia e a 32 da do concelho. Sendo tão pequeno, pois nunca teria tido mais do que quatro fogos habitados, teria muito pouco para dizer, o que não é verdade e dizemos isto em relação a outros montes da mesma dimensão.
O topónimo pode-nos levar a várias conjecturas já que a sua escrita está distante de ser consensual.
Nas Memórias Paroquiais de 1758, o pároco que respondeu ao questionário indica a existência de um monte com um só morador, que designa por Rivellada.
Vários montes deste tipo existiram por todo o concelho que constituíam a residência do “senhor”proprietário dos terrenos que abrangiam vasta área. Nalguns casos as herdades foram desmanteladas por heranças e vendas, originando a que a esse fogo primitivo se juntassem outros, resultando assim, em montes de dimensões maiores.
Aqui isso não aconteceu.
Rivellada tomou várias fórmulas como Revalada, (1) Ravelada, ou Revelada (2) ou Rebolada, como se ouve muitas vezes dizer.
Deste monte primitivo há muito abandonado, ainda existem vestígios e situa-se entre o Montinho e Malfrade.
Muito depois e nos mesmos moldes veio a construir-se uma nova habitação isolada que passou a designar-se por “Montinho”. Ou por se situar relativamente próximo do primitivo monte da Revalada ou por estar relacionado com ele a título de possessão, passou a designar-se por Montinho da Revelada com as variantes já indicadas.
A nível de leitura, aparece-nos a existência de um morgadio, vínculo indivisível e inalienável que se transmitia numa família de primogénito em primogénito, mas em linha recta varonil.
O morgadio foi instituído por António de Brito Correia de Mascarenhas e Aboim, sargento-mor, fidalgo da Casa Real.
Uma filha deste, D. Maria Perpétua Correia de Mascarenhas e Aboim, veio a casar na Sé de Faro em 10.04.1778 com António Luís de Macedo Rebelo (1745-1808) que teria vindo a ser o 1º Conde da Ravelada (3) o que a Nobreza de Portugal e do Brasil não confirma.(4)
Foi tenente - coronel, capitão - mor, juiz vereador, almotacé - mor, cavaleiro fidalgo da Casa Real e grande homem de negócios, sendo igualmente administrador dos bens do seu opulento sogro.
Os morgadios vieram a sofrer grande machadada dada pelo liberalismo, principalmente pelo decreto de 4 de Abril de 1835 e acabaram por ser abolidos pelo decreto de 19 de Maio de 1863.
Com título ou sem título, a verdade é que vamos encontrar vários elementos desta família ligados a Alcoutim.
Dos seus filhos foi primogénito o doutor António Luís de Macedo e Brito que seguiu a vida eclesiástica. O secundogénito, Joaquim Filipe de Aragão de Macedo e Brito (1798-1867) herdou de seu pai todos os títulos e foi cônsul da Prússia e da Inglaterra no reino do Algarve. Foi preso pelos liberais em Portimão e levado para Lisboa. Uma filha, D. Mariana Rita Correia de Mascarenhas de Macedo e Brito, que casou com António Joaquim Ramalho Ortigão de Faro e vieram a ser ascendentes do escritor Ramalho Ortigão.
[O Senhor da Revelada]
António Joaquim Ramalho Ortigão foi capitão de mato e desde meados de 1816 Familiar do Santo Ofício em Évora. (5). Não admira, pelo que temos dito que de 1850 a 1858 tivesse sido eleito procurador à Junta Geral do Distrito pelo concelho de Alcoutim.
D. Joaquina Rosa Ferreira Aboim, que nasceu em 1803, certamente da família que temos vindo a referir, em 1860 ainda era uma das senhorias da Herdade da Malhada.
Também Luís Fernando de Macedo e Brito, igualmente dos Macedo e Brito, exerceu por volta de 1850 as funções de subdirector da Alfândega de Alcoutim, tendo sido transferido para Setúbal. (6)
Oralmente foram transmitidas várias estórias referentes a esta família, hoje, certamente, muito esbatidas no tempo.
Montinho é diminutivo de monte, que aqui na serra, como já se tem dito por variadíssimas vezes, significa pequena povoação.
Revelada, feminino de revelado e derivado de revel (rebelde)? ou terá a ver com Revelo, por Rebelo, antropónimo ? É que o “Conde da Ravelada” ou Revelada era precisamente Rebelo de seu nome! A Revelada constituiria as coisas próprias dos Rebelos? Talvez.
Dos seus quatro fogos, em 1998 só dois eram habitados e hoje será só um com três pessoas.
[Ruinas no Montinho da Revelada. Foto JV]
Situa-se praticamente no cruzamento da estrada nº 506 (Vaqueiros-Bentos), uma excelente estrada onde passa um veículo de meia em meia hora e a nº 505 (Monchique-Soudes). O troço numa extensão de 8 km compreendido entre o Montinho e Monchique, o seu custo estava estimado em cerca de 30 mil contos. (7) Em 1989 estavam a decorrer os concursos para as obras de pavimentação. (8)
Recebeu telefone em 1995 (9) e um ano depois foi electrificado (10) já que entretanto se tinha criado uma queijaria que registava a produção de 1500 queijos por dia, empregando sete pessoas e que até então recebia energia de um gerador. (11). Segundo informação recebida a exploração actualmente está semiparada.
Em 1996 são instaladas duas caixas de recepção de correio o que significa que existiam dois fogos habitados. (12)
Em 2001 foram colocados fontanários (13) para pouco depois ser levada a água ao domicílio.
Em 2003 manda-se construir um abrigo rodoviário (14) e em 2006 é beneficiada a estrada para Monchique até ao limite do concelho. (15)
A maior parte das construções da pequena povoação estão em ruínas.
Notas
(1) – Regulamento do Plano Director Municipal de Alcoutim.
(2) – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol 24, p. 458
(3) – Anais do Município de Faro,(?) Pinheiro e Rosa.
(4) – Edições Zairol.
(5) - Dicionário da História de Portugal , Direcção de Joel Serrão.
(6) – Viemos a conhecer na nossa freguesia natal, muito antes de conhecer Alcoutim, três elementos desta família, tia e dois sobrinhos.
(7) – Boletim Municipal nº 2, de Fevereiro de 1988.
(8) – Boletim Municipal nº 4 de Abril de 1989.
(9) – Alcoutim, Revista Municipal nº1, de Maio-Junho de 1995.
(10) - Jornal do Algarve de 16 de Maio de 1996.
(11) - Diário de Notícias de 7 de Maio de 1996.
(12) – Alcoutim, Revista Municipal nº 4 de Dezembro de 1996, p. 12.
(13) – Alcoutim, Revista Municipal nº 8, de Setembro de 2001, p. 14
(14) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 10 de Dezembro de 2003, p. 10.
(15) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 13 de Dezembro de 2006, p. 15.