(PUBLICADO NO JORNAL DO BAIXO GUADIANA, Nº 89, DE SETEMBRO DE 2007, P. 22)
O correspondente em Alcoutim do Diário Popular, de Lisboa, em 21 de Maio de 1968, envia para publicação uma notícia intitulada ESTA NÃO É DO ENTRONCAMENTO MAS PARECE.
Relata um caso passado em sua casa informando que um pintassilgo nasceu de um ovo que tinha sido introduzido num ninho de canários.
O passarinho acabou por ser criado com os “manos” canarinhos e passado um mês foram separados dos pais para um gaiolão.
Até aqui pouco de anormal se nota.
Acontece e segundo o corresponde (*) afirma que um miúdo da escola lhe vem trazer um pintassilgo implume que tinha caído de um ninho. Por descargo de consciência meteu-o no gaiolão e ficou espantado quando o pintassilgo com um mês, que mal sabia comer, começou a alimentar o irmão da mesma espécie pelo que presumia que se iria salvar, para espanto de todos!
O resultado final, não o conheço mas o relatado merece pelo menos espanto!
O caso que apresento, ainda que também tenha a ver com um ovo, é diferente mas igualmente me deixou de boca aberta, não por ser inédito mas sim por ser possivelmente muito pouco frequente, para não dizer raro.
Em meados de Maio último e encontrando-me no meu período de relaxamento na serra algarvia, mais propriamente no monte de Afonso Vicente, freguesia de Alcoutim, calhou-me recolher um ovo e até porque as frangas tinham encetado e iniciado a postura.
Procuro comer poucos ovos mas os das minhas galinhas provocam-me uma atracção especial.
Dias depois, ao jantar e havendo preparado umas costeletas de porco, lembrei-me de as acompanhar com um ovinho estrelado. Peguei na minha frigideira de ferro, própria para uma unidade e que deve de estar perto de ser centenária, aqueci a gordura e parti o ovo para uma pequena tigela. O volume do mesmo admitia, sem ser certo, a existência de duas gemas, o que a acontecer não me admiraria. Mas afinal, qual duas, qual três, eram quatro as gemas! Nunca tinha visto tal, nem três, quanto mais quatro! Saí porta fora e fui à minha vizinha, meeira das galinhas, mostrar-lhe o que tinha ali. Apesar de já ter partido e visto partir muitas centenas de ovos, nunca tinha presenciado tal! Disse-lhe logo que ia para casa e tirava uma fotografia pois só assim as pessoas podiam verificar o facto. Não tirei uma mas sim duas pois podia haver alguma falha.
Preocupação seguinte foi perguntar a toda a gente se tal lhes tinha acontecido mas só consegui obter de duas pessoas o terem visto já três gemas, mas nunca quatro.
Certamente que o caso não é inédito mas que não é fácil acontecer, será verdade.
Caro leitor, nunca publicaria este arrazoado sem a fotografia e espero que não pensem que ela foi manipulada.
(*) Leopoldo Vicente Martins, natural de Alcoutim e há muito falecido.