Nota prévia
Esta nota monográfica sobre o “monte” de Afonso Vicente, irá ser até hoje a mais desenvolvida, não pela importância da povoação mas sim por um melhor conhecimento do meio, já que tem sido a ele que recorro desde 1987 para o meu período de férias, quando me encontrava no activo e depois de 1996 na situação de reformado.
Isto nada tem a ver com qualquer imaginária menos consideração pelos restantes e são todos os do concelho que já abordei neste espaço ou na imprensa regional.
Porque se trata de um texto relativamente longo irá ser publicado em várias” postagens”e intercaladamente para não se tornar fastidioso para os leitores.
A ordem de publicação será a mais lógica no meu ponto de vista.
Espero que os leitores compreendam as razões da diferença de abordagem, principalmente os naturais, os que têm raízes ou são moradores nas outras povoações.
JV
Dedicatória
À minha mulher companheira de quase 42 anos, que sem o saber nem o procurar me tornou apaixonado desta região e que no dizer do nosso Amigo e colaborador Daniel Teixeira casei com ela e com Alcoutim.
JV
SITUAÇÃO
[Vista aérea do "monte" em 2004]
Esta pequena povoação, aqui designada por “monte”, situa-se na parte norte da freguesia de Alcoutim. Hoje tem acesso alcatroado com 550 metros troço derivado da EM nº.507.que da estrada nacional nº 122 nos leva à Vila sede de concelho e com seguimento junto ao rio ligando com o concelho de Castro Marim.
Localiza-se numa pequena elevação. Encontra-se a 8,5 km da sede do concelho e tem como povoação mais próxima as Cortes Pereiras que se situam a 3 km. A vila de Mértola está a 31 km e a cidade de Vila Real de Santo António um pouco mais distante, a 44 km. (1)
Do lado nascente, passa-lhe junto o Barranco do Rabilongo que conforme os sítios por onde corre vai adquirindo os seus nomes, como é o caso do Arroja Cus, Lapa e depois Medronhais. Do lado oposto ou seja ao poente encontramos o Barranco do Poço que depois se junta ao da Medronheira, indo desaguar num de muito maiores dimensões que é o Barranco do Tamejoso. (2)
Estes pequenos cursos de água, que normalmente só correm no Inverno, são subsidiários da Ribeira do Vascão.
O Barranco do Tamejoso fica com alguns pegos no Verão como acontece com o da Quebrada, próximo de Santa Marta, o dos Penedos, frente à Machada e mais abaixo o do Caldeirão e ainda o da Voltinha do Ti André. São utilizados para o gado beber, nomeadamente o dos Penedos.
DESCRIÇÃO
De tipo concentrado, as habitações entrechocavam-se com ramadas e palheiros, hoje quase desaparecidos. O branco da cal contrasta com o escuro de xistos e grauvaques.
Em meados do século passado, as casas tinham todas telhados de uma ou de duas águas e telha de canudo e imperavam os caniços. Muitas possuíam poiais e pilheiras, portas de madeira com postigo. Eram poucas as que tinham janelas.
Em 1987 com um filho da terra já avançado na idade, identificámos 76 edifícios de habitação, incluindo os que se encontravam degradados mas que tinham sido habitados.
Naturalmente, não havia nem há ordenamento na construção, até porque casas novas de raiz só conheço duas. As outras são reconstruções e algumas realizaram-se totalmente aproveitando o número da matriz. A disposição dos edifícios forma uma meia elipse.
Eram tudo edifícios de rés-do-chão mas presentemente já existem dois de dois pisos.
Em 1990 ainda localizei 22 fornos de cozer pão, muitos deles, derruídos pelo tempo, pois nessa altura já ninguém cozia e se o faziam era em situações muito especiais.
Este monte é, segundo penso, o de maior número de edifícios a nível individual, dos que se situam entre a ribeira de Cadavais e a do Vascão.
NOTAS
(1)-Google Earth
(2)-Este hidrónimo deve derivar de tamuje, do espanhol tamujo, espécie de sanguinheiro, planta ramnácea também chamada zangrinheiro, sanguinho e sandim. Crescem nas regiões quentes e têm por tipo o ramo. Eram utilizadas para fazer vassouras, em verde ou seco e destinavam-se a varrer as “arramadas”.
(CONTINUA)