quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Tabuleiro para pão
Apresentamos hoje nesta rubrica um utensílio, haverá 50 anos fora do activo. Na década de 60 do século passado ainda era utilizado pelos que já com alguma idade não se sentiam em condições de acompanhar os mais jovens para a cintura industrial de Lisboa e Setúbal, para o litoral algarvio e muito menos para o estrangeiro, nomeadamente, França e Alemanha.
Os que ficaram eram obrigados a semear algum trigo, que transformado em farinha constituía a base do seu sustento e isto numa altura em que bem poucos podiam contar com uma reforma, ainda que fosse pequena. Mesmo estes não podiam dispensar alguma actividade agrícola como complemento dessa reforma.
Por outro lado as vias de comunicação eram inexistentes, o que se veio a alterar após 1974. Logo que a mudança política teve lugar, todas as pessoas começaram a receber uma pequena reforma. Tanto pela idade como por esse pequeno sustentáculo e ainda pelo seu espírito de economia, pois sempre viveram consoante a pobreza da região, principiaram a adquirir o pão no comércio ambulante que começou a chegar após a construção das pequenas vias de acesso e uma vez que passaram a possuir algum dinheiro já lhes possibilitava tal aquisição.
Os velhos fornos dos “montes”, ora individuais ora comunitários, a pouco e pouco foram deixando de funcionar e os que poderão existir, bem poucos serão, estão, salvo raras excepções, em completa ruína. Muitos foram derrubados e desapareceram para criação de novos espaços com destino diversas utilizações.
Depois do intróito, que foi mais dilatado do que originariamente pensávamos, iremos abordar o móvel deste escrito: “O tabuleiro para pão”
O exemplar que apresentamos na foto foi-nos cedido para este fim e está há muitos anos desactivado, ainda que por motivos sentimentais o preservem.
Pelo que conhecemos da zona, constitui o modelo regional, que possivelmente será comum, pelo menos, aos concelhos limítrofes.
Duas tábuas largas como fundo (tamanho variável conforme as necessidades do agregado familiar) de formato rectangular. Cada uma das larguras é constituída por uma tábua em forma de trapézio isóscele, tendo a altura do mesmo cerca de 15 a 20 cm.
[Arrumando o pão para cozer em tabuleiro de novo modelo. Foto JV, Páscoa de 2005]
Em face desta circunstância, as guardas laterais que na figura geométrica correspondem ao comprimento, de forma rectangular e que se ajustam à altura das que correspondem à largura, tornam-se um pouco inclinadas. As guardas rectangulares ultrapassavam um pouco o comprimento do fundo, como se pode ver na foto apresentada.
Para forrar o tabuleiro existia o tendal, pano branco que nos tempos antigos era de linho e com uma área sensivelmente ao dobro do tabuleiro.
Depois do pão tendido, o que era feito numa tábua comprida de formato rectangular e que numa das extremidades era em forma de círculo com um buraco para pendurar na parede.
Colocava-se o tendal ajustado às paredes do tabuleiro. Colocavam-se a seguir sobre ele, ordenadamente, os vários pães tendidos, depois tapavam-se com a parte sobrante do tendal para sua protecção.
Depois era transportá-lo para o forno, que normalmente estava próximo, debaixo do braço ou à cabeça e que tinha sido previamente aquecido, de uma maneira geral, com esteva que foi acarretada na época própria para o monturo.
Após a cozedura, o pão regressava ao tabuleiro e voltava a casa, constituindo assim a “amassadura” que geralmente era feita todas as semanas.