terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Banda de Alcoutim (1873)
A Câmara Escura de hoje apresenta a fotografia mais antiga até agora publicada e isso é possível, mais uma vez, por deferência do alcoutenejo José Madeira Serafim. Foi tirada há 138 anos!
Ao contrário do que na maior parte das vezes acontece, esta está datada e identificada e pena é que faltem os nomes dos músicos.
Segundo o que se pode ler no verso, a fotografia foi tirada em Alcoutim no dia____de Novembro de 1873 e é assinada por J.C. Torres, certamente, por ser o seu proprietário.
Qual a razão para estar datada relativamente ao mês de Novembro, ainda que não indique dia? Se fosse Dezembro, isso sim, levar-nos-ia a pensar no dia 1 (Restauração da Independência) ou 8 (Nª Sª da Conceição), dias de muita nomeada, por razões plausíveis nesta pequena vila.
Em Novembro, só o dia de Todos os Santos ou de Finados consideramos viáveis e isto se o conjunto estivesse habilitado à execução de peças compatíveis com essas datas. O dia de S. Martinho, 11 de Novembro, não o encontro como significativo no concelho.
Convirá referir que J. C. Torres significa João Cesário Torres, que foi irmão mais velho de Manuel António Torres que já referimos em várias ocasiões e que “herdou” do pai as funções políticas de Recebedor de Fazenda e que mais tarde deram origem a uma carreira profissional designada por Tesoureiros da Fazenda Pública. Juntamente com o P. António José Madeira de Feitas veio a fazer parte de uma comissão escolar no sentido de tomar decisões sobre esta área. Não o “encontrámos” desempenhando funções de Presidente da Câmara ou mesmo vereador, tal como Administrador do Concelho lugares que foram desempenhados por vários membros da sua família.
Deu o seu contributo à Santa Casa da Misericórdia mas nunca como Provedor.
Veio a casar muito tarde tal como o irmão.
Atendendo a que adquiriu a fotografia, admitimos que nela esteja enquadrado, mas isto é só no campo das suposições.
Nunca supusemos que em 1873 existisse uma formação musical deste tipo em Alcoutim, nem oralmente mesmo nos chegou essa informação. Nas consultas que fizemos a alguma documentação que nos foi disponibilizada, nada encontrámos neste sentido, contudo, em 1875 e por isso, muito próximo da data referida, localizámos um ofício em que se diz ter existido um pequeno teatro o qual actualmente não funciona por estar abandonado.
Pelo que deduzimos, na época, Alcoutim estava a par do movimento cultural vivido no país.
Iremos agora abordar a identificação dos instrumentos existentes que foi feita por um profissional a nível de regência, o que obtivemos através do nosso colaborador, Fernando Lino.
O saxo-trompa está representado pelo nº 1 e são dois que se encontram nas extremidades da primeira linha do plano.
O trombone está identificado com o nº 2 e são dois que se encontram na primeira fila, um de cada lado do bombardino (nº 3) que se encontra ao centro. O outro é o primeiro do lado esquerdo da última fila.
O nº 4, o último do lado direito da 2ª fila, toca cornetim, enquanto o nº 5, que está a seu lado, é um flauta transversal.
Os clarinetes são quatro (nº 6) e completam esta segunda fila.
O segundo do lado esquerdo da última fila (nº 7) é um jovem que toca flautim e a seguir, como é bem visível (nº8) é o homem dos pratos e a seu lado mais um jovem (nº 9) que o nosso informador presume ser o caixa. A seu lado o nº 10 que toca bombo como demonstra a fita que tem ao ombro e que o suportava. A seguir, o único que não tem boné será possivelmente o porta-estandarte.
Além da presença de João Cesário Torres, que já admitimos pelas razões apontadas, há outra que a foto nos sugeriu. O homenzarrão que se destaca de todos os outros e de grandes suíças.
Durante muitos anos uma família local era conhecida por “Brandões”. Só algum tempo depois de chegar a Alcoutim verificámos tratar-se de uma alcunha, até porque os visados não se mostravam incomodados com isso.
A então mais idosa representante dessa família era Ana Bárbara Casegas (1887-1977) e que toda a gente conhecia por Ti Ana Brandoa, e foi exímia fazedora de nógado.
Conversámos muitas vezes com ela procurando indicações sobre o passado alcoutenense e por vezes dizia-nos: Como sabe isso? Aqui já ninguém sabe dessas coisas!
Uma das vezes que tal aconteceu, foi quando lhe dissemos que o pai se chamava João Casegas, que era guarda-fios de profissão e natural de Unhais da Serra, freguesia do concelho da Covilhã. A mãe, Rita Maria ,é que era alcouteneja. O nome Casegas (Casa do Egas) deve ter vindo de uma aldeia da mesma zona, hoje, se a memória não nos falha, sede de freguesia.
Mas não foi com ela que abordámos a alcunha agregada à família, até porque nessa altura não sabíamos que se tratava de um epíteto.
Demo-nos sempre muito bem com o seu filho António, tal como com a mãe e os outros familiares, incluindo os filhos, de elevada estatura. Ainda que fosse um homem relativamente fechado nunca deixámos de ter longas conversas principalmente sobre a vida de Alcoutim que conhecia muito bem. Era grande trabalhador e enquanto pôde explorou uma hortinha junto do Guadiana.
Fazendo-lhe a pergunta de onde tinha vindo o Brandão (era naturalmente conhecido por António Brandão), respondeu-nos: A minha mãe dizia-me que o pai era um homem muito alto e forte e parecido em estatura com um homem então muito conhecido chamado Brandão.
O Sr. António não sabia quem tinha sido este Brandão que foi fácil de identificar como o ainda hoje falado João Brandão (Midões 1825 – Angola 1880) político liberal que praticou alguns crimes e que o levaram à deportação para Angola onde veio a ser assassinado.
Pensamos que aqui está a razão da alcunha de Brandão e até o nome próprio era o mesmo, João.
O João Casegas (Brandão) era um homem metido na vida associativa da vila pelo que não admiraria que fizesse parte da Banda de Música, tudo isto pelo que já dissemos e no campo das hipóteses.
É tudo o que conseguimos retirar desta fotografia histórica da vida alcouteneja.