TOPONÍMIA
[Vista aérea do "monte". Anos 80]
Afonso Vicente é um caso de antropotoponímia, por isso, um antropónimo que deu origem ao topónimo. Afonso é nome extremamente vulgar em toda a região e Vicente também é frequente.
Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, este topónimo é um dos mais dignos de nota no concelho, afirmando-se que foi um povoador medieval (séc. XIII - XIV). (1)
É único no país, ainda que haja naturalmente mais “Afonso” com outras composições.
A pequena povoação é referida como pertencendo à freguesia e concelho de Alcoutim, distrito de Faro, em entrada própria. (2)
Estes nomes costumam trazer atrás de si lendas mais ou menos arquitectadas, transmitidas de geração em geração, mas não é este o caso, pois nada consta sobre o cidadão Afonso Vicente.
Fonce Vicente vi escrito em tomos municipais do século XIX e há umas décadas o povo pronunciava Foncente.
No arquivo da Santa Casa da Misericórdia encontrámos uma curiosa referência:- Afonso Vicente e Ignez Pereira tinham uma missa cantada por sua alma, todos os anos. Não sabemos desde quando era devida. (3)
A nível de zonas rústicas propriamente ditas estão relacionados com aspectos geográficos:
Umbria das Casas – num lugar sombrio, a vertente ocidental de um monte.
Cerro da Machada – situação elevada que poderá ter e ver com antiga proprietária.
[Cerro da Machada. Foto JV, 2010]
Pateira – que poderá ter a ver com patos, lugar onde há água onde se possam banhar.
Fonte Pinga – local onde nasce água, pingando.
Vais – plural popular de vale.
Valinhos – diminutivo de vale.
Barrocas – covas; passagem funda entre penedos ou barrancos.
Lapa – grande pedra que proporciona abrigo.
Lavajo – local baixo e húmido que proporciona hortejos.
A outro nível encontrámos topónimos causados pela flora e pela fauna.
[Sítio da Lapa ou dos Medronhais. Foto JV, 2010]
Medronhais e Medronheira são zonas rústicas distintas sendo, contudo, comum a origem do topónimo que está na árvore chamada medronheiro que aqui também é conhecida no feminino ou seja medronheira. Há algumas zonas que constituem microclimas onde se dão bem mas de uma maneira geral isso não acontece.
Murtosas – está em vez de murtal, terrenos onde crescem murtas.
Rabilongo – é uma espécie de pega, de rabo longo, que é vulgar por estes sítios.
Barranco dos Coelhos – está implícito a fauna bravia.
Carneiro – outro topónimo relacionado com este pequeno herbívoro que ainda hoje abunda por estas paragens.
Ainda que as designações não tenham sido “aprovadas por quem de direito”, a verdade é que os poucos habitantes que restam desta povoação sabem os nomes tradicionais dos vários locais do “monte” e das artérias existentes.
Assim o Terreiro, designação medieval e que em Lisboa e junto ao paço, se chamava e chama Terreiro do Paço. Aqui é, naturalmente, o Terreiro do monte, largo espaçoso que sempre funcionou como local de reunião onde aparecia o fraco comércio de então e que ainda hoje é o local visitado pelos vendedores ambulantes, que
por enquanto ainda vão aparecendo, apesar de ser em menor número.
Era também aqui que se armavam os mastros para os bailes tradicionais, nomeadamente, pelos Santos Populares ou pelo Entrudo.
O Terreiro constituiu o pólo de desenvolvimento da povoação. É o único local do monte que tem seis acessos.
O outro “largo” da terra é designado por Alagoa, muito mais pequeno e com quatro vias de acesso.
Quanto a ruas, temos a conhecida pelo Capacho, onde se situa a associação local e que vai desembocar na Alagoa.
A rua do cimo da povoação é conhecida, por isso, pela Rua do Alto e outra que lhe fica próxima, pela Rua Fria.
A Rua do Friso, durante muitos anos a preferida para os encontros de cavaqueira, é assim chamada porque junto a uma casa, há muito em ruína, existe um muro de suporte a que chamam friso e que as pessoas utilizam para se sentar.
Foi apeado recentemente por oferecer perigo de derrocada.
Uma azinhaga, por ter sido escabrosa e que vai dar ao Terreiro, é conhecida desde sempre por Azinhaga do Inferno.
Quando foram colocados os fontanários, as principais ruas de acesso foram asfaltadas e só em 1993 cimentados os restantes arruamentos.
NOTAS
(1) - Volume XIV, p. 893
(2) – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Volume I, p. 520
(3) – Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia), 1985, p 352
(CONTINUA)