VIAS DE COMUNICAÇÃO
[Estrada Municipal nº 507. Foto JV, 2010]
Durante o domínio árabe, nos arredores de Alcoutim, os caminhos existentes serviam principalmente os povoados que estavam associados a explorações mineiras, como acontecia com as Cortes Pereiras. (1)
Em 1935 o vogal da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, José Francisco Ginja, apresentou em reunião de Câmara a seguinte proposta: - Que a Comissão Administrativa contratasse um agente técnico para proceder ao estudo e levantamento da planta de uma carreteira que partindo da vila e passando pelos montes de Cortes Pereiras e Afonso Vicente, fosse ligar à estrada que vindo de Mértola, passa próximo do monte de Santa Marta. (2)
A proposta foi aprovada por unanimidade, desconhecendo-se houve alguma acção posterior nesse sentido. A verdade é que as actas seguintes nada referem sobre o assunto, tal como não indicam nenhum pagamento para esse fim.
Só passados cinco anos (1940), o vereador, António Gomes Alves, residente nas Cortes Pereiras, vem a intervir na reunião da Câmara da seguinte maneira: - (...) conforme é do conhecimento de toda a gente, o caminho que desta vila segue par aos montes de Cortes Pereiras, Afonso Vicente e Vascão, está em péssimo estado, encontrando-se mesmo alguns lugares, de todo intransitáveis. E continua aquele autarca: Que é conhecido que os habitantes dos aludidos montes estão fazendo uma subscrição para procederem à reparação do caminho. Em face disto, propunha que a Câmara subsidiasse os mesmos com a quantia de dois mil e quinhentos escudos, o que foi aprovado por unanimidade (3).
Em 1960, com saída ao quilómetro 78 da E.N. nº 122 e chegando ao Monte do Sol, é construído o troço da estrada municipal nº 507 que não teve por base o interesse das populações, já que esse era chegar à sede do concelho. Continuou-se,assim, depois do Monte do Sol, a seguir o velho caminho que conduzia à vila e com o problema de no Inverno nem sempre a ribeira dar passagem.
Existem vários exemplos de morte por afogamento na tentativa de passar a ribeira, algumas ainda hoje lembradas.
Em 1980/81, alargou-se a estrada e construiu-se o que restava para chegar à vila, procedendo-se ao alcatroamento com conclusão da ponte sobre a ribeira de Cadavais em 1984/85, ficando assim o acesso concluído.
[Troço de acesso ao monte. Foto JV]
O pequeno troço de acesso ao “monte” (550m) foi feito depois de 1975 e antes de 1980. Em 1997 encontrava-se em muito mau estado e necessitado de arranjo o que só veio a acontecer em 2008, situação que me obrigou ter de esperar 2 h e 40 m para poder chegar ao “monte” e isto para que o empreiteiro pudesse realizar a pavimentação com mais rapidez havendo, consequentemente, menor despesa com mão-de-obra.
Anteriormente já tinha beneficiado da colocação de postes de iluminação pública o que ajuda a fazer o trajecto até ao refúgio para passageiros, principalmente durante o Inverno.
[Caminho do monte para o Cerro da Machada. Foto JV]
A nível de caminhos agrícolas, existem para o Cerro da Machada, com bifurcação para a Corte Miguel e Santíssima (Ribeira do Vascão), para os Medronhais, para as Murtosas, para as Provenças e para o Lavajo.
Actualmente estes caminhos são utilizados por caçadores e a nível de florestações, já que nada se semeia, os amendoais e olivais estão completamente abandonados por falta de rendimento e de quem faça o trabalho.
Relacionado com este assunto encontrei referência a um conflito, pois Francisco Ribeiros e Manuel Domingos, moradores no monte, apresentam na Câmara um requerimento datado de 25 de Junho de 1878 em que pedem providências contra o acto praticado por José Lourenço do mesmo monte pois tapou um caminho que os requerentes classificam de vicinal. A Câmara em Sessão de 22 de Agosto seguinte deliberou que o Presidente tomasse as necessárias informações e procedesse consoante as mesmas.
Certamente porque a situação se mantinha, cerca de um ano depois e na Sessão da Câmara de 19 de Setembro de 1879 compareceram Francisco Ribeiros, Manuel Frederico, Francisco Lourenço, Manuel de Orta Gato, Manuel Domingos e António Gonçalves, todos de Afonso Vicente, queixando-se de José Lourenço do mesmo monte, por ter feito um cercado próximo do monte, por dentro do qual passa um caminho público que ele tapou, ficando os habitantes daquele monte privados da sua utilização, a não ser passar por cima de terrenos de outros vizinhos. A Câmara prometeu justiça mas não encontrei mais notícias sobre o assunto.
[Caminho para os menires do lavajo. Foto JV]
NOTAS
(1) – “O Algarve Oriental durante a ocupação islâmica”, Helena Catarino, al-ulyã, Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 6, 1997/98.
(2) – Sessão da CMA de 11 de Julho.
(3) – Sessão de 29 de Março de 1940.
(CONTINUA)