PLANTAS SILVESTRES E O SEU USO
Noutros tempos, que nada têm a ver com o que hoje acontece, o alcoutenejo e a grande maioria do povo português tinha de aproveitar ao máximo os poucos recursos de que dispunha, incluindo o aproveitamento das plantas espontâneas.
O uso ia desde a alimentação às mezinhas, passando pelo precioso auxílio que davam em determinadas tarefas.
As celgas ou acelgas utilizadas, tanto as “mansas” como as “bravas”, sendo assim distinguidas pelos alcoutenejos nos “jantares” de grão ou de feijão. Os alhos “areios” como aqui designam os alhos-porros ou arelhos são muito apreciados, utilizando o caule e a rama em guisados com tiras de toucinho e outros condimentos.
As beldroegas são uma verdura que faz parte igualmente dos “jantares”, comendo-se cozidas.
Das leitugas quando tenras fazem-se saladas.
Os poejos são uma planta espontânea que os Afonso-vicentinos ainda muito utilizam em açordas e em pratos de peixe, devido ao seu gosto activo e agradável.
No que respeita a mezinhas, o estramónio (figueira do diabo) depois de secas as folhas serviam para fazer cigarros que fumados faziam bem à asma.
O calafite utilizava-se nos inchaços e a erva da rocha, que se cria nos rochedos junto do Guadiana, era utilizada em chá contra a obstipação.
As raízes das “alabroitas” (abrótea ou gamão, do espanhol gamón) cortadas às rodelas eram utilizadas para tirar impigens quando sobre elas se colocavam durante algum tempo.
O chá de salva ainda é muito utilizado por estas paragens para dispor bem o estômago.
Muitas mais plantas são usadas como mezinhas enquanto outras se perderam com o decorrer dos tempos.
A louça sempre teve necessidade de ser lavada e o esfregão aqui era representado pela mariola em verde.
A marcela (macela) além do seu uso medicinal, quando seca era utilizada para atiçar o fogo, conforme expressão local.
A cinza originada pela queima do loendro, a que chamam “lexia”, por analogia possivelmente com lixívia, servia para desencardir a roupa através de uma barrela. Por outro lado, as varas de loendro eram indispensáveis na feitura de caniços.
Até a casca (pele) da amêndoa tinha utilidade. Servia para limpar os “amarelos”, como por exemplo as barras e maçanetas existentes em algumas camas de ferro. Por outro lado, a casca propriamente dita quando lançada no fogo, constituía uma boa fonte de calor.
Uma vez no campo, o homem ao precisar de atar alguma coisa, recorria ao travisco ou trovisco, colhendo uma vara à qual tirava a pele que assim substituía a corda, nem sempre fácil de obter. Era com travisco que atavam os enxertos por garfo de oliveira em zambujeiro.
As vassouras eram feitas de tamujo em verde ou em seco, para varrer as “arramadas” e as de mata-pulga serviam nas eiras.
A esteva era utilizada, pela sua rijeza, para fazer agulhas para coser sacos e também para os espichos nos alguidares de barro, que recebiam o azeite com a água-
O funcho temperava os figos secos dando-lhe um paladar agradável.
A cana tem variadíssimas aplicações, desde os caniços dos telhados, hoje quase acabados, até à cestaria indispensável para toda a actividade do homem do campo. O plástico veio substituir muitos destes utensílios.
As famílias não deixavam de possuir os seus canaviais nos lugares propícios ou seja, junto de rios, ribeiras e barrancos. A cana era indispensável na vida quotidiana desta gente.
O tojo era próprio para chamuscar os porcos depois de abatidos.
(CONTINUA)