(PUBLICADO EM “O SÉCULO”NÚMERO EXTRAORDINÁRIO COMEMO-RATIVO DO DUPLO
CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE PORTUGAL, LISBOA, JUNHO DE 1940)
Alcoutim é mo Algarve uma das
mais lindas terras, pela sua excelente posição geográfica, e pela brancura do
seu casario alegre, brancura esta, que é, aliás em todas as povoações
algarvias, uma característica de beleza. E nem só beleza, mas também tradições
tem a vila encantadora.
A 66 quilómetros de
Faro, situada na montanha onde principia a serra de Monchique, na margem
direita do Guadiana, Alcoutim foi uma das melhores fortalezas de Portugal. A
praça de armas está rodeada de muralhas com três portas, que se chamam de
Guadiana, de Mértola e de Tavira, existindo nesta última a seguinte inscrição:
«Alphonsus VI Rex Portugaliae et Algarbiorum, 1661». O castelo em ruínas era
quadrado.
Castelo de Alcoutim. Finais anos 60. Foto JV |
D. Sancho II a tomou aos mouros,
em 1240 e D. Deniz mandou-a povoar, reedificar o castelo e deu-lhe foral, em
1304 com todos os privilégios de Évora, doando-a à Ordem de Santiago. D. José I
elevou-a a vila. Pertenceu à Casa do Infantado.
Além do castelo, Alcoutim tem uma
linda capela, fundada por D. João IV para comemorar a Restauração da
Independência e dedicada a Nossa Senhora da Conceição. No castelo de Alcoutim
se fizeram pazes entre dois reis Afonsos: o de Portugal e o de Castela. Junto
do Cerro de Santa Bárbara, ao Norte da vila, há vestígios de fortificações
antigas e ali, sobre um rochedo alto, se fez um reduto artilhado.
Na agricultura tem o concelho de
Alcoutim, com as suas cinco freguesias, a base maior, quasi única, da sua economia.
O terreno é fértil, como todo o do Algarve e produz especialmente trigo, do
qual chegam a exportar-se 1.000 000 de quilos. E também se exportam carnes,
lãs, queijos e amêndoas.
A indústria representa-se por
duas espécies: cerâmica de barro (louças de uso) e foices.
O povo é laborioso e simples,
acolhedor e amável, amando com excepcional e exemplar carinho a terra que é o
fundamento da sua vida económica. A-pesar da fertilidade do solo, os homens do
concelho de Alcoutim trabalham com exaustivo esforço, e só assim conseguem
viver sem dificuldades.
Alcoutim e Sanlúcar. Finais anos 60. Foto JV |
São lindos os panoramas que
Alcoutim oferece aos visitantes. As montanhas, como os montes menores e as
planícies formam um conjunto admirável, que encanta e seduz. Poucas terras do
Algarve se lhe comparam ou excedem em beleza e atractivos naturais.
Em tempos recuados o favor de
reis e de fidalgos lhe deu importância e a acrescentou em riqueza e esplendor.
Depois, como sucedeu a grande parte do País, as lutas civis, a política e o
desinteresse de muitos dos seus filhos permitiram que Alcoutim caísse no
abandono absoluto. Até mesmo a política
nova com dificuldade lá chegou. Nos últimos vinte anos nenhumas obras se
fizeram no concelho. Apenas estão em construção as estradas 106 – 2ª e 108 – 2ª,
que ligará o concelho ao resto do País, com o qual Alcoutim não tinha vias de
comunicação indispensáveis ao seu progresso e desenvolvimento. À estrada 106 –
2ª faltam as pontes nas ribeiras de Beliche, Foupana, Odeleite e Vascão. A
conclusão dessas obras é da maior importância e urgência. Só quem visita
Alcoutim pode avaliar a falta que tão importante melhoramento tem para o nosso
concelho.
E não só esta aspiração tem o
concelho, mas muitas mais, entre elas a ligação telefónica com o País, o cais
da vila, que está estudado desde 1936, mas para o qual não se deu mais um
passo; uma estrada que ligasse Martinlongo e Vaqueiros, duas freguesias
importantes que, no Inverno, ficam completamente isoladas do concelho, em
especial a última.
É estranhável, de facto que
Alcoutim, com tão poucas aspirações, não consiga vê-las realizadas, sobretudo
se pensarmos que melhoramentos do mesmo género e até maiores têm obtido aldeias
e freguesias de menor categoria.
Capela ou Igreja de Nª Sª da Conceição. Finais dos anos 60. Foto JV |
Se o Estado, com o seu estímulo e
ajuda material, não acode ao concelho de Alcoutim, outro largo período correrá
sem que os seus habitantes vejam satisfeitas as suas tão legítimas aspirações.
Se o leitor alguma fez for ao
Algarve, não deixe, a-pesar de tudo, de visitar Alcoutim, vila encantadora, e
os panoramas admiráveis que dele se descobrem.
Pequena nota
Quem escreveu este texto não se identifica, admitindo que pudesse ter
sido alguém que vivesse em Alcoutim e que ocupasse lugar político localmente
importante.
As fotografias que apresento são dos anos 60 e de minha autoria, já que
as constantes do texto não estão em condições de as transportar para este
espaço. As que empregámos correspondem às apresentadas no original no que diz
respeito ao local fotografado.
Na parte introdutória encontram-se como é fácil de perceber alguns
erros sobre a história, aliás erros que se foram repetindo por muitos anos.
A análise das potencialidades de Alcoutim e seu concelho estão, quanto
a nós, impregnadas de bairrismo. Procura o autor depois dar umas picadas no seu
próprio partido político, lamentando a falta de auxílio e criticando o facto de
“Até mesmo a política nova com
dificuldade lá chegou”.
Apesar de tudo é possível verificar o atraso confrangedor em que o
concelho se encontrava apesar de se viver há pelo menos 12 anos na Política Nova que alguns alcoutenejos e
não só, abraçaram, como é natural.
As estradas, a electricidade e a água não chegavam mas havia União
Nacional, Mocidade Portuguesa, Legionários e... bufos.
E ainda não acabaram!
JV