No nosso trabalho, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio
(Subsídios para uma monografia), 1985, escrevemos o que sabíamos sobre o
período político conturbado que se passou no século XIX entre absolutistas e
liberais.
Aproveitando o que então
escrevemos e com investigação posterior, publicámos neste espaço três textos
sobre a mesma temática, o primeiro em 18 de Janeiro de 2011 com o título
“Liberais e absolutistas em Alcoutim”, o segundo em 30 de Março de 2012. “Guerrilhas
– Lenda e tradição oral” e por último, em 24 de Julho do mesmo ano, “A
guerrilha do Remechido no concelho de Alcoutim.
Utilizámos a bibliografia que
conseguimos encontrar além da consulta feita em documentação local,
principalmente, nos livros de actas da Câmara Municipal.
Há dias, em pesquisa on line e sem termos esse intuito, fomos
encontrar documentação e factos que se incluem e alargam o conhecimento sobre o
assunto.
Na aldeia de Martim Longo, região
muito afectada neste período de lutas internas, encontrámos que pelas cinco da
tarde do dia 15 de Novembro de 1838 foi fuzilado nesta aldeia José Thomaz,
solteiro, o qual tendo sido soldado de Caçadores 5, desertou depois para os
Guerrilhas.
Nesta qualidade e com armas na
mão, foi aqui apanhado por uma força de Cavalaria comandada pelo Major Manuel
Maria Cabral do referido Caçadores nº 5 e pelo mesmo foi mandado fuzilar.
Certifica o Pároco Encomendado,
José Pedro Rodrigues Teixeira, que lavrou o assento de óbito, que o dito José
Thomaz é o mesmo que nesta aldeia esteve destacado.
Meses depois, em 5 de Maio de
1839, encontrámos outro assento de óbito, desta vez de José da Costa, casado com
Ana Joaquina, natural de Vila Nova de Gaia, morto
em fogo num encontro com os Guerrilhas no dia 4.
Era soldado do Regimento de
Cavalaria nº 5.
Cerca de dois anos depois, vamos
encontrar o assento de três óbitos ocorridos no mesmo dia e no mesmo lugar,
situado entre Corte Serranos, freguesia de Martim Longo e Vale de Odre,
freguesia de Cachopo.
Um aspecto de Corte Serranos. Foto JV |
Estão datados de 27 de Setembro
de 1841 e dizem respeito a Francisco Gomes Delgado de Martim Longo, casado com
Maria Isabel das Dores, Manuel Afonso Guerreiro, casado com Maria Dionísia de
Martim Longo e José Joaquim de Ataíde, casado com Benedita dos Mártires,
igualmente de Martim Longo.
Quanto ao primeiro, o Pároco José
Pedro Rodrigues Teixeira diz que não
recebeu os últimos sacramentos porque morreu às mãos dos seus inimigos que
barbaramente lhe tiraram a vida, as razões para o segundo são semelhantes, porque morre às mãos dos seus inimigos que
desumanamente o mataram, sendo para o terceiro escrito como justificação, porque foi tiranamente morto por seus
inimigos.
Dá-nos a impressão que são
vítimas de emboscada e ainda que o pároco não o refira concretamente, parece-nos
estar na presença de um assassinato político, em consequência ainda daquelas
lutas partidárias de concepções opostas.
É mais um pequeno texto para a
história dos guerrilhas no concelho de Alcoutim.