terça-feira, 16 de abril de 2013

Um fuzilamento e outros assassinatos



No nosso trabalho, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia), 1985, escrevemos o que sabíamos sobre o período político conturbado que se passou no século XIX entre absolutistas e liberais.

Aproveitando o que então escrevemos e com investigação posterior, publicámos neste espaço três textos sobre a mesma temática, o primeiro em 18 de Janeiro de 2011 com o título “Liberais e absolutistas em Alcoutim”, o segundo em 30 de Março de 2012. “Guerrilhas – Lenda e tradição oral” e por último, em 24 de Julho do mesmo ano, “A guerrilha do Remechido no concelho de Alcoutim.

Utilizámos a bibliografia que conseguimos encontrar além da consulta feita em documentação local, principalmente, nos livros de actas da Câmara Municipal.

Há dias, em pesquisa on line e sem termos esse intuito, fomos encontrar documentação e factos que se incluem e alargam o conhecimento sobre o assunto.

Na aldeia de Martim Longo, região muito afectada neste período de lutas internas, encontrámos que pelas cinco da tarde do dia 15 de Novembro de 1838 foi fuzilado nesta aldeia José Thomaz, solteiro, o qual tendo sido soldado de Caçadores 5, desertou depois para os Guerrilhas.

Martim Longo. Antiga Rua Direita, actual Dr. Antero Cabral.
Foto JV
Nesta qualidade e com armas na mão, foi aqui apanhado por uma força de Cavalaria comandada pelo Major Manuel Maria Cabral do referido Caçadores nº 5 e pelo mesmo foi mandado fuzilar.


Certifica o Pároco Encomendado, José Pedro Rodrigues Teixeira, que lavrou o assento de óbito, que o dito José Thomaz é o mesmo que nesta aldeia esteve destacado.

Meses depois, em 5 de Maio de 1839, encontrámos outro assento de óbito, desta vez de José da Costa, casado com Ana Joaquina, natural de Vila Nova de Gaia, morto em fogo num encontro com os Guerrilhas no dia 4.

Era soldado do Regimento de Cavalaria nº 5.

Cerca de dois anos depois, vamos encontrar o assento de três óbitos ocorridos no mesmo dia e no mesmo lugar, situado entre Corte Serranos, freguesia de Martim Longo e Vale de Odre, freguesia de Cachopo.
Um aspecto de Corte Serranos. Foto JV
Estão datados de 27 de Setembro de 1841 e dizem respeito a Francisco Gomes Delgado de Martim Longo, casado com Maria Isabel das Dores, Manuel Afonso Guerreiro, casado com Maria Dionísia de Martim Longo e José Joaquim de Ataíde, casado com Benedita dos Mártires, igualmente de Martim Longo.

Quanto ao primeiro, o Pároco José Pedro Rodrigues Teixeira diz que não recebeu os últimos sacramentos porque morreu às mãos dos seus inimigos que barbaramente lhe tiraram a vida, as razões para o segundo são semelhantes, porque morre às mãos dos seus inimigos que desumanamente o mataram, sendo para o terceiro escrito como justificação, porque foi tiranamente morto por seus inimigos.

Dá-nos a impressão que são vítimas de emboscada e ainda que o pároco não o refira concretamente, parece-nos estar na presença de um assassinato político, em consequência ainda daquelas lutas partidárias de concepções opostas.

É mais um pequeno texto para a história dos guerrilhas no concelho de Alcoutim.