Escreve
Maria Dias
Vou para a cozinha e
ponho o meu avental. Começo as tarefas do fogão, da loiça, da mesa.
Toca o telefone. Com o
meu avental ainda posto, vou ouvindo uma amiga angustiada e ansiosa por alguém
que saiba e a consiga ouvir.
Vou-lhe dando algumas
respostas (poucas) de ânimo e consolo, e volto ao refogado. Acrescento o arroz
e reduzo o lume. Enquanto cose, venho ao computador, procurar notícias das
“crianças” e/ou de alguma amiga, ou dar uma vista de olhos pelos jornais.
Ups, o arroz! Está
quase a esturrar! Lá vou eu e o meu avental, a descer as escadas à pressa.
Cuidado, acalma-te, ainda cais! (falo para mim mesma).
Tocam à porta. Pergunto
quem é, e esquecida que ainda estou de avental, abro a porta ao carteiro.
Assino os registos. E agora? São horas de almoçar e não vem ninguém. Lembro-me
que é dia de trabalho. Estou só. Começo a almoçar. Acompanham-me as notícias da
TV e o meu passarinho a competir com o seu estridente chilrear. Ainda com o meu
avental, vou comendo, ouvindo, pensando nas famílias que a esta hora não terão
nada na mesa.
Levanto-me, arrumo o
prato, dou um jeito à bancada da cozinha.
Finalmente, retiro o
meu avental, dou uma espreitadela ao espelho, um jeito ao visual e saio de casa.
Vou para as minhas actividades lúdicas e/ou tratar de assuntos no exterior.
Final da tarde,
regresso a casa. Volto a colocar o meu avental, preparo o jantar, a mesa e
finalmente, janto acompanhada. A minha muito valiosa companhia de há já 30 e
tais anos. Minutos depois, o meu avental volta ao seu cabide. Amanhã o dia
promete não ser muito diferente.
Não muito longe, vão os
dias em que tudo era muito mais agitado. O almoço era comido em pé, tarde e a
más horas, e o passarinho chilreava sozinho em casa.
Por tudo o que tenho e
por tudo o que vivi, DEUS SEJA LOUVADO.