Entrada norte da povoação. Foto JV |
Alcançamos
esta povoação seguindo pela designada estrada marginal e que encontramos depois
de termos passado pelo Montinho e pelas Laranjeiras.
Situa-se
a 11 km
de Alcoutim a cuja freguesia pertence.
A
estrada marginal continua a correr paralelamente ao rio, ficando à nossa
esquerda dos melhores terrenos agrícolas do concelho e que constituem as
chamadas várzeas do rio, predominando a oliveira nos sítios mais afastados, a
vinha os citrinos e já banhados pelas águas do rio, nas “baías” os marmeleiros
e as romãzeiras que além dos frutos tinham a missão de segurar os terrenos
através do seu forte raizame.
Em
1976 fomos encontrar, de recente fundação, o Centro Cultural POVO-MFA. O antigo
edifício escolar, que estava devoluto, foi ocupado e preparado pelo povo com o
auxílio das Forças Armadas. Além da criação de um posto clínico, cujo
apetrechamento foi possível pelo abate ao efectivo de um vaso de guerra, pois
parte do material existente foi para aqui enviado, era assistido por médicos
duas vezes por semana. Velhos tempos!
Tinha
salão de festas de razoável tamanho. José Segundo Martins foi um dos grandes
entusiastas desta obra.
É
evidente que tudo isto pertence ao passado e faz parte da história local, sendo
representativo de uma época ainda não muito distante.
Em
1989 (1) anuncia-se que será instalado neste antigo edifício escolar, que a
Região de Turismo do Algarve se prepara para comprar, o Museu do Rio. Nele irão
ser recolhidas peças de artesanato local e objectos tradicionais relacionados
com a faina piscatória.
Em
1991 (2) informa-se que os Bombeiros Voluntários de Alcoutim acabam de adquirir
o imóvel com o apoio da Câmara Municipal e da Região de Turismo do Algarve.
Diz-se então que irá reunir peças arqueológicas, apetrechos de pesca e outros
objectos e documentos ligados à vida do rio, não esquecendo o comércio ilegal
entre as duas margens do Guadiana. O Museu irá testemunhar toda a vida
ribeirinha nos aspectos histórico, cultural e etnográfico.
Aspecto exterior do Museu. Foto JV |
O
Museu do Rio vem a ser inaugurado em Janeiro de 1995 e afirma-se agora que o
edifício foi adquirido pela Câmara Municipal, subsidiado pela Região de Turismo
do Algarve e a instalação financiada pela Delegação Regional da Secretaria de
Estado da Cultura. (3)
A
área de intervenção do museu vai da Foz de Odeleite até ao Pomarão e insere-se
num percurso que procura retratar toda a vida do rio através dos tempos. (4)
Apesar
de bem modesto, o museu não deixa de, através de textos, desenhos e fotografias,
contar a história do comércio fluvial que desde tempos imemoriais se fazia até
Mértola. (5)
O
museu foi, entretanto, reestruturado, mas não voltámos a visitá-lo pelo que
desconhecemos o seu conteúdo. Consta-nos, contudo, que possui desde 2008 uma
exposição de pequenas réplicas dos barcos que circularam no baixo Guadiana em
diversas actividades.
O
povoado, tal como os seus vizinhos, desenvolve-se pela encosta do cerro e
assenta sobre rocha xistosa. Lá no cimo, a escola primária que concentrava as
crianças das redondezas, incluindo Corte das Donas,e que presentemente (1997)
tem dificuldade na manutenção devido à falta de alunos. Há muito que encerrou.
Casa interessante e bem preservada dos anos 30 do séc. passado. Foto JV |
Em
1917 já havia uma escola móvel a funcionar (6) que deu origem a um posto
escolar e mais tarde à escola.
Esta
zona da margem direita do Guadiana foi sempre procurada pelo homem e por aqui
se fixaram entre outros povos os romanos que deixaram alguns vestígios.
A
facilidade de comunicação, a pesca e a actividade agrícola eram factores de
grande importância. Mais tarde, com a fixação das fronteiras, adquiriu outra
importância a acrescentar às já existentes, ponto de vigilância e de defesa do
território tendo o topónimo originado dessa circunstância. Em tempos distantes,
os mancebos da região
estavam
isentos do cumprimento do serviço militar mas eram obrigados a defender a
fronteira em caso de guerra.(7)
A
Guarda-Fiscal teve sempre aqui o seu posto com o comando de um 1º cabo e foi um
dos últimos a ser extinto. Esse facto não evitou, naturalmente, a existência da
actividade oposta, o contrabando, que por aqui teve a sua expressão.
Acesso à Casa de Pasto. Foto JV |
João
Martins, aqui morador, foi em 1845 um dos dois informadores por parte deste
concelho na divisão com o de Castro Marim e pela Cheia Grande que causou o
desabar de seis moradias, foram indemnizados Lourenço Madeira, 300$000, Manuel
da Palma Gato, 250$000, e Maria Custódia, Vª de Ildefonso Gonçalves, 200$000.
A
mesa da estação telegráfica do Pomarão foi recolhida aqui por Manuel da Palma
Gato.
Em
1887, um requerimento dos moradores do monte solicita à Câmara a concessão de
um subsídio de nove mil réis que se destina a aprofundar e reconstruir o poço
público. (8)
Dois
poços abasteciam o monte e nos princípios da década de 80 do século passado o
precioso líquido passou a ser fornecido por intermédio de oito fontanários
através de um furo artesiano. Presentemente já há saneamento básico.
Existiu
desde há muito um forno comunitário que ainda era utilizado por parte da
população na primeira metade da década de 70 do século passado.
A
existência de uma Lutuosa, instituição muito característica da zona e a
primeira fundada (1934) e em que se pagava uma quota mensal de 5$00, constitui
uma simples lembrança de alguns.
Os
Guerreiros do Rio têm dois pequenos estabelecimentos comerciais:- uma mercearia
e uma casa de pasto muito procurada, principalmente, pelo prato de enguias que
tem muitos apreciadores.
Vista parcial. Na parte cimeira o hotel. Foto JV |
Uma
plataforma de apoio ao cais possui um pequeno serviço de cafetaria com
esplanada,o que se torna bem agradável. Entretanto, foram construídos pequenos
apoios individuais para os pescadores do rio.
De
notar a existência de uma unidade hoteleira situada em posição cimeira com
excelente vista sobre o Guadiana.
Apresenta
uma piscina rodeada por um terraço e espreguiçadeiras, usufruindo-se de bons
panoramas.
Podem
organizar-se actividades de canoagem ou de pesca e estão disponíveis bicicletas
para alugar.
Tem
estacionamento próprio.
O cais com o seu movimento. Foto JV |
Segundo
o Jornal do Algarve de 23 de Março de
1984, iniciaram-se passeios turísticos fluviais com partida de Vila Real de
Sto. António e que têm como ponto mais a montante este povoado. Desconhecemos
quando terminaram.
Hoje,os
Guerreiros do Rio são um lugar muito procurado pelos turistas nacionais e
estrangeiros, tendo alguns adquirido velhas casas que restauraram a seu gosto e
que frequentam em períodos de férias e de fins-de-semana.
As
várzeas que ladeiam a estrada tornam-se maiores quando se caminha para o sul e
denunciam boa produtividade:- vinhas, oliveiras, figueiras e citrinos, além de
produtos hortícolas. Sem dúvida que estamos na presença de uma das zonas mais
férteis do concelho.
No
outro lado do rio, um fogo “César” desabitado na altura.
Existe
um clube de caça e pesca.
Em
1758, segundo as Memórias Paroquiais, Guerreiros possuía 17 vizinhos e em 1839 a Corografia do Algarve de Silva Lopes atribui-lhe 22 fogos.
De
notar que os “montes do rio” em 1758 faziam parte da freguesia de Alcoutim mas
pertenciam ao termo de Castro Marim.
Em
1991 tinha cinquenta moradores e cinquenta e nove edifícios. Desconhecemos a
actual situação.
NOTAS
(1)
– Boletim Municipal, nº 5 de Setembro de 1989.
(2)
– Boletim Municipal nº 8 de Abril de 1991.
(3)
– Jornal do Algarve de 26 de Janeiro
de 1995.
(4)
– Alcoutim, Revista da C.M.A., nº 1, de Maio / Junho de 1995.
(5)
– Guia (Expresso) de Portugal, 2-Algarve, de 1 de Julho de 1995, pág. 15.
(6)
– “Um século de Ensino Escolar no concelho de Alcoutim (1840 – 1940)”, José
Varzeano, Jornal do Algarve de 4 a 18 de Abril de 1991.
(7)
– Memórias Paroquiais, 1758, Freguesia do Pereiro, quesito 22.
(8)
– Acta da Sessão da C.M.A. de 18 de Julho de 1887.