Pequena nota
Não consigo passar sem
deixar uma pequena reflexão sobre este poema.
Possivelmente, isso
acontece por me encontrar na faixa etária que o poeta refere e por isso mesmo,
podê-la analisar com realismo.
Tudo o que a poesia
nos diz é a realidade que todos sentem quando chegam a uma determinada idade.
Contudo, há muitos que não chegam a ter esta experiência.
Encontrar as palavras
ajustadas à situação, ligá-las com harmonia e sonoridade, é o que poucos sabem
fazer, como eu, mas não é o que se passa com o meu sempre jovem colaborador,
cuja poesia transmite um toque especial a este espaço.
Aqui deixo ao “velho”
colega de profissão, alcoutenejo pelo coração, o meu abraço de admiração.
JV
José Temudo
Os velhos
falam do passado.
De
que mais hão-de falar?
Do tempo
que corre, apressado,
das dores
que devem calar,
da
tristeza, que sempre magoa,
da vida
breve, que se escoa?
De
que mais hão-de falar?
Da
Primavera, de flores, do sol, do Verão,
dos
passeios que jamais farão,
de
petiscos, que não vão comer,
de roupas ,que
não vão usar ?
De
que mais hão-de falar?
De livros,
que já não podem ler,
de filmes, que
jamais verão,
dos filhos
que os esquecem,
dos netos, que
os desconhecem,
da vida
viva, que passa ao lado ?
De
que mais hão-de falar?
Do futuro, ignorado,
do
presente, mal amado?
Os velhos
falam do passado,
do vivido e
do imaginado,
com vontade
de voltar!
De
que mais hão-de falar?