segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O mercado do peixe



Escreve

Gaspar Santos




O mercado situava-se junto a esta  muralha.
Foto JV, 2010.

A vila de Alcoutim teve mercado do peixe até ao princípio da década de 40 do século passado. Estava encostado à muralha da capela, no lado nascente da Capela de Santo António, um pouco abaixo donde hoje é o Restaurante Soeiro. Foi demolido durante a construção do cais novo, para lhe dar melhor acesso.

O telheiro teria, na minha avaliação, cerca de 8 m por 5 m. Oito metros encostado e cinco metros saído da muralha. O solo era de pedra e não tinha bancas de venda. O telhado de telhas de canudo suportado por caniço e paus, apoiava-se por um lado à muralha e pelo outro em dois pequenos pilares de alvenaria. Um funcionário da Câmara Municipal procedia à sua limpeza deitando alguns baldes de água trazida do rio, que para lá regressava pela valeta.

Era aí que de manhã os próprios pescadores do rio ou um intermediário vendiam. Acabados de pescar vinham ainda vivos, ou pelo menos muito frescos barbos, muge, enguias ou, na época própria, lampreia (muito raramente) ou sável, saboga e machinho (muito abundante em Abril).

O peixe vindo do mar era vendido de manhã se era pescado no dia anterior e viajara durante a noite. No Verão, quando os vendedores aproveitavam os ventos intensos do sul e demoravam na viagem menos de três horas desde Vila Real, vendiam o peixe à tarde. Quase sempre vendiam carapaus, sardinha, cavala, sarda, ou besugos, salmonetes, robalos, chocos etc.

Com alguma frequência ocorria competição entre os vendedores. Para se despacharem para regressar a casa ou por já terem bebido um copo a mais, baixavam muito o preço e os consumidores não se faziam rogados, aproveitando.

Vi algumas vezes pessoas comprar um cento de carapaus por 20 centavos de escudo. Era para depois de salgados, secá-los ao sol pendurados num fio.

Durante a construção do cais este barracão foi sacrificado à estrada de acesso. A venda do peixe passou a fazer-se ao ar livre na Rua do Município, e nunca mais houve vontade, espaço e dinheiro para construir um mercado.

Ainda se chegou a ventilar a ideia de utilizar como novo mercado o espaço da Capela de Santo António, mas essa ideia foi esquecida e muito bem. A Vila de Alcoutim só alguns anos após o 25 de Abril de 1974 voltou a ter mercado outra vez.