Escreve
José Temudo
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Contava-se na cidade, e julga-se
que a “estória” era verdadeira, que a Maria, ainda mulher dos seus vinte e
poucos anos, teria ido para Coimbra como governanta de uma “república de
estudantes”, levada por um moço de Chaves. Mulher dos sete ofícios, terá estudo
e servido na “república” como sopa no mel. Cozinhava, limpava, arrumava, lavava
e passava a ferro, divertia e consolava os rapazes, a todos eles, sem excepção,
que a Maria não era mulher para desconsiderar ninguém!
Antes de terminar, quero referir
duas facetas da Maria (assim a tratávamos) que muito contribuíram para a
simpatia que a cidade tinha por ela.
A Maria era foliona, mas foi sempre
uma mulher de trabalho, jamais vivendo exclusivamente da prostituição. Nos
últimos anos da sua vida, ela era a encarregada da limpeza da Igreja Matriz, o
que significa que, nem para os moralistas mais exigentes, a Maria era
considerada uma mulher perversa. Admito que a Maria se tenha zangado, uma vez
por outra ao fazer o seu serviço de limpeza na Igreja Matriz, e dito o que não
devia dizer naquele lugar sagrado que ela muito respeitava. Se isso aconteceu,
e disseram-me que sim, presumo que os santos e os anjos, ainda que de pau e de
pedra, devem ter corado de vergonha e indignação com o que ouviram saindo da
boca da Maria, pois a sua linguagem, muito ao gosto popular, não era própria
para ouvidos delicados!
A segunda faceta respeita ao
facto da Maria ter aceitado filhas de outras prostitutas, que criou, que
protegeu e educou com o mesmo zelo e carinho como se fossem filhas suas, que
não teve, ou por mera sorte ou porque teve os cuidados necessários.
Não nos admiremos, pois, que
muitos dos seus amigos e simpatizantes, tenham organizado uma Verbena no Jardim Público para ajudar a Maria, então a viver a situação em que a
velhice e a falta de saúde já não lhe permitiam ganhar o seu sustento.
Já depois do que ficou escrito,
chegou-me ao conhecimento que o reputado pintor flaviense NADIR AFONSO lhe fez
o retrato que se encontra exposto no Museu Municipal de Chaves.
É assim esta tão antiga cidade de
Chaves: por vezes, rude: mas sempre generosa para aqueles de quem gosta, sejam
ricos, sejam pobres!