Escreve
Maria Dias
Apetece-me muitas vezes parafrasear o grande José Saramago: “O HOMEM MAIS
SÁBIO QUE CONHECI, NÃO SABIA LER NEM ESCRE-VER”
Quando em pequenos chorávamos e perguntávamos: a minha mãe?
A tua mão comeu um lobo!
Quando a mãe ou o pai saíam e nos deixavam, nós queríamos ir com eles.
Diziam-nos: Fica aí quietinha que a mãe vai ali matar um cão mau!
Se insistíamos em estar sempre a atiçar o lume,
Quem mexe no fogo faz xixi na cama!
Se fazíamos queixa de outra miúda ou miúdo e vínhamos num grande choro,
Era certa aquela lenga-lenga do meu pai:
Deixa estar que ela/ele há-de morrer numa sexta-feira e nem os cães hão-de
ir ao funeral!
Se chorávamos, mãe: o gato arranhou-me!
Resposta certa: arranha-lhe também a ele!
Se sentávamos no chão e dali não saíamos:
Fica aí até que volte o homem do saco que ele ainda agora passou para baixo
(ou para cima).
Mãe: tenho frio!
Embrulha-te na capa do teu tio e deita-te para o fundo do rio. Ou: Corre
que isso passa!
Mãe: tenho medo!
Mete o dedo!
Ou quando estávamos a aborrecer alguém nos dizia: vai ver se eu estou em
tal sítio.
E quando não nos deixavam ir: vais mas é com os calcanhares para a frente!
Ou como aquele vizinho que quando já estava cansado das visitas ao serão,
dizia para a mulher: Maria, vamos deitar que estas mulheres querem ir embora!
Ou o outro que chegava carregado com os cestos e dizia calmamente: Cheguei
agora mesmo de Lisboa, deixem-me ir ali pôr as malas!
Ou quando alguém fazia asneira (geralmente adultos): quem te desse com um
gato morto pelas ventas até que ele miasse!
Ou quando alguém se mostrava desanimado e se lamentava: Se vocês soubessem
a minha vida, iam pedir para me dar!
“Tirarei sempre o meu chapéu” a esta gente que sabe rir de si própria e à
sua capacidade de resiliência que o pouco lhes basta e têm uma graça inata!