sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O sentido de humor dos "montanheiros" e as coisas que nos diziam





Escreve

Maria Dias



Apetece-me muitas vezes parafrasear o grande José Saramago: “O HOMEM MAIS SÁBIO QUE CONHECI, NÃO SABIA LER NEM ESCRE-VER”

Quando em pequenos chorávamos e perguntávamos: a minha mãe?
A tua mão comeu um lobo!

Quando a mãe ou o pai saíam e nos deixavam, nós queríamos ir com eles.
Diziam-nos: Fica aí quietinha que a mãe vai ali matar um cão mau!

Se insistíamos em estar sempre a atiçar o lume,
Quem mexe no fogo faz xixi na cama!

Se fazíamos queixa de outra miúda ou miúdo e vínhamos num grande choro,
Era certa aquela lenga-lenga do meu pai:
Deixa estar que ela/ele há-de morrer numa sexta-feira e nem os cães hão-de ir ao funeral!

Se chorávamos, mãe: o gato arranhou-me!
Resposta certa: arranha-lhe também a ele!

Se sentávamos no chão e dali não saíamos:
Fica aí até que volte o homem do saco que ele ainda agora passou para baixo (ou para cima).

Mãe: tenho frio!
Embrulha-te na capa do teu tio e deita-te para o fundo do rio. Ou: Corre que isso passa!

Mãe: tenho medo!
Mete o dedo!

Ou quando estávamos a aborrecer alguém nos dizia: vai ver se eu estou em tal sítio.

E quando não nos deixavam ir: vais mas é com os calcanhares para a frente!

Ou como aquele vizinho que quando já estava cansado das visitas ao serão, dizia para a mulher: Maria, vamos deitar que estas mulheres querem ir embora!

Ou o outro que chegava carregado com os cestos e dizia calmamente: Cheguei agora mesmo de Lisboa, deixem-me ir ali pôr as malas!

Ou quando alguém fazia asneira (geralmente adultos): quem te desse com um gato morto pelas ventas até que ele miasse!

Ou quando alguém se mostrava desanimado e se lamentava: Se vocês soubessem a minha vida, iam pedir para me dar!

“Tirarei sempre o meu chapéu” a esta gente que sabe rir de si própria e à sua capacidade de resiliência que o pouco lhes basta e têm uma graça inata!