(PUBLICADO NO DIÁRIO
DE NOTÍCIAS DE 19 DE AGOSTO DE 1986)
A PROPOSTA para a criação de oficinas-escolas de artesanato
nas sedes de freguesia do concelho de Alcoutim, foi apresentada no encerramento
da primeira feira de artesanato ali realizada.
O seu autor foi Ascensão Nunes, um investigador da história
local, que publicou, recentemente, um livro sobre aquele concelho, intitulado: Alcoutim – Capital do Nordeste Algarvio.
Ascensão Nunes, que falava sobre a história do artesanato do
concelho, alertou para a necessidade de se ressuscitar essa actividade,
“outrora tão rica e intensa”.
Dos inúmeros artesãos que, em tempos, existiram em Alcoutim,
ainda se conseguiram reunir durante dois dias cerca de duas dezenas, vindos das
diferentes freguesias do concelho.
Cesteiros, ferradores, ferreiros, fabricantes de cadeiras,
rendeiras e tecedeiras, e fabricantes de queijos e mel, executara, ao vivo, os
seus trabalhos e alguns venderam-nos aos visitantes que ali acorreram.
1ª Feira de Artesanato de Alcoutim. Tecedeira trabalhando. Foto JV, 1986 |
“Muita gente não veio, no entanto, à feira por falta de
transportes” referiu o vereador Francisco Amaral, que manifestou, ao mesmo
tempo, a convicção de que esta iniciativa será melhor para o ano.
Como se faz
aguardente de medronho
O único produtor de aguardente (por processos tradicionais)
do concelho também marcou presença nesta feira, ao lado do seu alambique.
“Aguardente de medronho, aqui, só sou eu que a faço, mas
esta é da pura”, acentuou Armando Rosa, de 68 anos, natural do sítio do Pão
Duro, freguesia de Vaqueiros, referindo-se à sua actividade que exerce há 18
anos.
1ª Feira de Artesanato de Alcoutim. Comprando mel da serra. Foto JV, 1986 |
Apesar de não fazer só aguardente de medronho, Armando Rosa
insistiu em explicar o seu processo de
fabrico, sublinhando que “para se produzir uma boa aguardente de medronho é
preciso apanhar o fruto bem maduro”.
O medronho põe-se nas tulhas. “Depois”, explica, “deita-se
na caldeira e faz-se o fogo até que rompa a fervura. De seguida encabeça-se a
caldeira e é tudo embarrado. O fogo
continua até que a aguardente de medronho corra para o alambique. Conforme
corra muito ou pouco, assim se vai regulando o fogo.”
A gastronomia local não ficou esquecida. A caldeirada de
peixe muge (tainha) do rio Guadiana e a doçaria local que, segundo reza a
história, fez as delícias do próprio rei D. Sebastião, estiveram em evidência.
Artista daquele concelho e outros agrupamentos do Algarve
também actuaram nesta feira, que se realizou no castelo de Alcoutim. O Grupo
Coral de Mértola encerrou o certame, que foi visitado por mais de duas centenas
de pessoas.
A I Feira do Artesanato foi uma iniciativa da Câmara
Municipal de Alcoutim, que contou com o apoio da Região de Turismo do Algarve e
da Comissão de Coordenação da Região do Algarve.
N.B. - A ilustração é de agora.