quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os filhos "Noronha" da 1ª Condessa de Alcoutim


(PUBLICADO NO JORNAL ESCRITO Nº 66 DE AGOSTO DE 2004 – ENCARTE DE O ALGARVE Nº 4810)

Brasão dos Noronha
Foi através da Internet na consulta de uma página de genealogia que tive conhecimento de outros filhos dos primeiros Condes de Alcoutim, a que em título chamo os “Noronha”.

As consultas que até aí tínhamos feito através da literatura habitual, só nos tinha levado ao conhecimento do filho primogénito, aquele que veio a suceder a seu pai como 2º Conde de Alcoutim e 3ºMarquês de Vila Real, D. Pedro de Meneses, mas hoje não é sobre este que vamos escrever, mas sim sobre os seus irmãos.

Um Meneses e os outros Noronha, porquê?

D. Pedro de Meneses, o do “aleo”, sepultado num belíssimo túmulo na Igreja da Graça, de Santarém, foi o 1º Conde de Vila Real, título que lhe concedeu D. João I em 1424, capitão e 1º governador de Ceuta, durante vinte e dois anos, até à sua morte.

Túmulo de D. Pedro de Meneses, 1´º Governador de Ceuta.
Des. Braz Ruivo.


Entretanto o título é-lhe substituído pelo de Viana, passando o de Vila Real para D. Fernando de Noronha que casara com D. Beatriz de Meneses, única e legítima filha do seu primeiro matrimónio.

Foi D. Fernando o 2º Conde de Vila Real, por direito de sua mulher, pelo que passou a usar o nome de D. Fernando de Meneses. A partir daí, só o primogénito e imediato sucessor se apelidava de Meneses, usando todos os demais membros da família o apelido e armas de Noronha.

Depois desta pequena introdução, iremos agora referir os “filhos Noronha” dos 1º Conde de Alcoutim.

O filho secundogénito chamou-se D. João de Noronha. Na ausência do irmão D. Pedro de Meneses, assumiu o governo da capitania de Ceuta. Como era próprio da sua estirpe, foi guerreiro notabilizando-se nas guerras do norte de África. Esteve com seu tio, D. Duarte de Meneses, 3º Conde de Viana, em Alcácer Ceguer, onde foi capitão.

Acompanhou o rei D. Afonso V na batalha do Toro, onde ficou prisioneiro. Libertado, é encarregado por D. João II do governo da Casa de D. Joana, a “Excelente Senhora”. O seu túmulo renascença encontra-se na Igreja de Santa Maria de Óbidos. (*)

Passemos agora a D. Nuno Álvares de Noronha, também ele capitão e governador de Ceuta. Casou com D. Maria de Noronha (Vila Nova) que parece ter falecido em 1578.

Não conseguimos até agora mais qualquer dado biográfico.

D. Afonso de Noronha, 5º Vice-rei da Índia.
O 4º filho de D. Maria Freire e de D. Fernando de Meneses, foi D. Afonso de Noronha que casou com D. Maria de Eça, filha de Fernando de Miranda. Foi o 5º Vice-rei da Índia.

Aposentador-mor do Reino, cargo já desempenhado por seu avô materno, foi Senhor de Olalhas, de S. Miguel e de S. João da Castanheira. Substituiu o seu irmão D. Nuno como capitão de Ceuta, funções que exerce de 1538 a 1549.

D. João III devido às grandes contrariedades encontradas, com faltas de tudo, acaba por resolver abandonar as praças de Arzila e Alcácer Ceguer, voltando ao Reino D. Afonso de Noronha. É nesta altura e tomando em consideração os bons serviços prestados em África que o nomeia Vice-rei da Índia, substituindo D. João de Castro.

Parte com a sua armada composta de seis naus, em Maio de 1550 e acompanham-no alguns fidalgos que se tinham distinguido nas guerras do norte de África.

Chega a Goa e toma posse do seu governo a 6.11.1550. Manda construir as fortalezas dos Reis Magos, próximo de Goa, e a de Mascate, de fortes muralhas. Ormuz, Ternate e Malaca foram valorosamente defendidas por D. António de Noronha e D. Jorge de Meneses.

No tempo do seu governo estiveram na índia o missionário Francisco Xavier, que morreu em 1552 e Luís de Camões. O seu vice-reinado durou quatro anos sendo substituído por D. Pedro de Mascarenhas. Regressa a Portugal onde parece ter vivido com indícios de pobreza, servindo o honroso cargo de mordomo-mor da Infanta D. Maria, filha de D. Manuel e da Rainha D. Leonor.

Foi sepultado no Convento de S. Domingos de Santarém.

Por último iremos referir a única filha do casal, D. Leonor de Noronha.

Teria nascido em Évora. Versada em várias línguas, foi discípula do humanista siciliano, Cataldo Sículo, com quem aprendeu latim, O seu Mestre descreve-a, aos onze anos, de cabelos louros e pele rosada. Considera-a inteligente e estudiosa, elogiando-a muito em carta que escreveu ao rei D. Manuel I.

Traduziu do latim a Crónica Geral de Marco António Sabélico (1550) além de outras obras de importância cultural.

Faleceu solteira, em 17 de Fevereiro de 1563, com aproximadamente 75 anos de idade, tendo levado uma vida de piedade e de estudo, dedicada às letras.

Algum dos filhos do casal teria nascido em Alcoutim? Não sabemos, mas não seria impossível.

(*) Não ficou sepultado em Óbidos como se afirma pois ficou em Ceuta tendo morrido na luta contra os mouros. Houve confusão com um familiar do mesmo nome mas de outro ramo.

Bibliografia

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro.
Enciclopédia Verbo. Luso Brasileira de Cultura, Edição Século XXI.
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Lisboa, Publicações Alfa, 1985.
Nobreza de Portugal e do Brasil, 3 Vols., Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1961.
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, 3 vols, Lisboa, 1927.