NOTAS HISTÓRICAS SOLTAS
SANTO OFÍCIO
As garras desta instituição,
de má memória, também se fez sentir nesta pequena povoação e é para nós a mais
antiga referência documentada que conhecemos.
É julgado e condenado no Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Évora, o lavrador João Mestre que aqui residia, solteiro, natural de Cachopo então pertencente ao concelho de Alcoutim, filho de Joane Anes e de Leonor Mestre.
Foi preso em 10 de Novembro de 1656 (em Alcoutim existiam os Familiares do Santo Ofício a quem competia denunciar as situações), acusado da prática de judaísmo, heresia e apostasia (deserção da fé).
Foi sentenciado a 18 de Abril de
É mandado cumprir degredo. (1)
CEMITÉRIO DA FREGUESIA
Em 1843 estando ainda por
fazer o cemitério da Vila e sendo grave a situação, a Câmara prepara para o
efeito uma sessão na Capela de Nª Sª da Conceição numa tentativa de resolver a
situação, sendo convocado um representante de cada monte, excepto Balurcos e
Cortes Pereiras que devido à sua dimensão foram representados por dois, tal
como a vila.
O representante desta povoação foi José da Palma de que não conhecemos até agora mais nenhum dado.
Não sabemos como a escolha foi feita mas teria sido, certamente, em consonância com a população.
Além da Câmara, presidida por Paulo José Lopes, encontrava-se o Administrador do Concelho, António Joaquim Pinto, o Prior, António José Madeira de Freitas (tio) e o Ajudador desta vila, a Junta de Paróquia, constituída por Joaquim Madeira, José António Torres, António Joaquim Botelho e Pedro José Roiz.
A reunião teve lugar no dia 22 de Dezembro na Capela de Nª Sª da Conceição como planeado e foi positiva tendo sido acordada uma solução para o assunto.
Depois da explicação minuciosa e ponderada do Presidente da Câmara e tomando em conta a urgência de um tão transcendente negócio e os meios de pronto providenciar sobre o repouso legal e decente para os finados, se acordou unanimemente de fazer um cemitério em o sítio de S. Sebastião, ao sul da Ermida, pegado à mesma.
Para o cemitério se fazer era necessário concorrerem com a importância de 80$000 réis todos os fogos da freguesia, que no último lançamento ou rol da côngrua do Prior e Ajudador pagavam de 950 réis para cima, pagando cada um na proporção dos seus haveres.
Os trabalhos braçais seriam feitos pelos fogos que pagavam verba inferior àquela, entrando neste serviço o das cavalgaduras.
Deliberou-se também que os trabalhadores seriam dirigidos por uma comissão composta pelo Presidente da Câmara, Administrador do Concelho e Prior da Freguesia, à qual cumpria levar a efeito a feitura do dito cemitério o mais depressa possível, fazendo chamar para o serviço braçal ou habitantes competentes ou suas cavalgaduras, por turnos.
As verbas seriam arrecadadas por José Guerreiro, que para o efeito foi nomeado, competindo-lhe também mandar pagar os utensílios necessários e materiais, pagando aos pedreiros e mais jornais, dando depois conta de tudo.
Acordaram os participantes em nomear como olheiro da obra, José Gregório de Andrade, que era oficial de diligências da Câmara e que veio a falecer em Julho de 1844.
Ao habitante que não trabalhasse com assiduidade e cuidado no dia ou dias que lhe pertencessem seria tal trabalho considerado nulo.
Deliberou-se, finalmente, que de tudo fosse dado conhecimento ao Governador Civil, pedindo autorização para fazer a derrama e poder obrigar os trabalhadores a dar até três dias de trabalho. (2)
CHEIA GRANDE
Os prejuízos causados foram enormes e também atingiram moradores neste monte, pois ainda que uns quilómetros afastado, as pessoas não podiam prescindir de uma várzea no rio dado que se tornava um sustentáculo para a família, uma vez que as margens do Guadiana são os terrenos mais produtivos de toda a região.
Os que apresentaram relação dos seus prejuízos foram os seguintes: - Francisco Ribeiros, 90 mil réis (3), Francisco Bento, Vº, 38$000, José Lourenço, José Thomaz e António Mestre Serras, 30$000 e Manuel Gomes, Vº, 21$000 e José Lourenço Borralho, 20$000. (4)
A calamidade que a cheia provocou deu origem à construção da estrada de Alcoutim até à aldeia do Pereiro, para assim possibilitar o ganha-pão de muitas famílias que ficaram na penúria.
Entre outras pessoas que nos referiram que os seus antepassados trabalharam na construção da estrada, lembramo-nos do Sr. António Patrício, vulgo António Pedro, de Afonso Vicente que nos dizia que a sua avó tinha trabalhado na construção da estrada.
Para auxílio da sementeira seguinte aportou um iate, como é designado, a Alcoutim carregado de sementes (trigo, cevada, aveia e fava) que foram distribuídas pelos lavradores mais necessitados e em que se incluíam os desta povoação, tendo sido para o efeito marcado determinado dia.
INCÊNDIO
Na reconstrução do edifício foram aproveitados alguns paus para o telhado, pois o fogo só os queimou superficialmente, tendo sido apeados recentemente ficando um deles guardado para recordar o nefasto acontecimento. (5)
NOTAS
(1) - Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Évora, proc. 8469
(2) – “O cemitério da Vila de Alcoutim – da origem aos nossos dias”, José Varzeano, Jornal do Algarve de 10 e 17 de Março de 1988.
(3) – Um dos maiores 40 contribuintes do concelho.
(4) – Acta da Sessão da C.M.A. de 24 de Abril de 1877.
(5) – Ofício nº 41 de 8 de Maio de 1882 do Administrador do Concelho dirigido ao Governador Civil de Faro.