Onde foram parar restos do pelourinho! |
Por todo o País ainda é
possível encontrar muitos destes monumentos, símbolos do poder municipal, por
vezes, em pequenas aldeias que foram concelho e hoje totalmente desconhecidas.
Nesta altura, os Senhores das terras punham e dispunham!
Os pelourinhos parece terem
origem nos Romanos, que nos sítios públicos colocavam ao alto uma pedra para
amarrar e castigar os criminosos.
A instituição do foral possivelmente
estará ligada à construção de um pelourinho colocado no centro da terra em
frente à Câmara Municipal.
A partir do século XV as
transformações judiciais e administrativas levaram o pelourinho a representar o
poder judicial e o pelouro dos municípios.
Ainda que os criminosos
continuassem a ser lá expostos, principalmente os forasteiros, a ele amarrados,
o pelourinho começa a ser utilizado preferencialmente para a afixação de
editais e a proclamação de posturas municipais e outras leis.
Os pelourinhos quando
completos são constituídos por uma base ou plinto que pode ser circular ou
facetada, ter ou não degraus, o fuste ou coluna igualmente circular ou
poligonal, por vezes torsa e o remate que fechava a coluna normalmente o
elemento mais trabalhado.
Conforme a sua feitura e
elementos trabalhados, os pelourinhos podem-se classificar em góticos,
manuelinos, clássicos e barrocos.
A implantação do regime
liberal, no século XIX, com a transformação profunda de aspectos
jurídico-administrativos, levou ao abandono total dos pelourinhos como símbolos
do poder e o seu derrube e destruição significou, muitas vezes, o acabar com as
leis do regime anterior. Reparar que estes monumentos aparecem mais nos
pequenos povoados onde as lutas políticas tiveram menos impacto.
Nesta conformidade, Alcoutim
também possuiu o seu pelourinho, possivelmente desde a concessão do foral de D.
Dinis, datado de 9 de Janeiro de 1304.
A quando da cheia de 1823,
ficou por terra, tendo a Câmara Constitucional, presidida por Jerónimo Mestre
Guerreiro (de Giões), solicitado auxílio, certamente para o reerguer.
Luiz Chaves, especialista no
assunto, classifica-o de gótico apeiado,
o que não coincide com a descrição que dele é feita. (1)
Em 1906 a Câmara Municipal
oficia à Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses,
dizendo: - (...) existiu na praça pública
desta vila um pelourinho, de tosca arquitectura, sem dúvida devido à sua muita
antiguidade, e como o mesmo se achava muito arruinado foi mandado demolir no
ano de 1869.As actas das sessões municipais nada referem sobre o assunto. As
imperfeitas cantarias foram empregadas nas obras de reconstrução do cais da
vila.(2)
Guerreiro Gascon, a quem já nos
temos referido em várias ocasiões, informa que em tempos ouviu ao Sr. Manuel
António Torres (...) que o pelourinho,
destruído cerca de 1878 para alargamento do trânsito (pensamos que possivelmente
devido à construção da estrada Alcoutim-Pereiro) se elevava na actual Praça da República. Tudo isto lhe confirmou o
Sr. Pedro Teixeira, enviando-lhe um desenho do monumento, feito de memória.
A desaparecida cadeia e onde antes tinha funcionado a Casa da Câmara. Foto de JV |
Mais informa que ficava
“defronte da Loja do Serafim”, era todo em mármore, sendo os restos empregues
nas obras do cais. Assentava sobre duas grossas pedras formando degraus. A sua
coluna media cerca de metro e meio e igual dimensão deveria ter por face a pedra
base. (3)
É tudo o que foi possível
dizer sobre este monumento cuja coluna ou parte dele serve hoje de base de
chuveiro no cais velho de Alcoutim.(4)
NOTAS
(1) – “Velharias - LXIII - Os Pelourinhos Algarvios”, Vieira
Branco in Correio do Sul de 9 de Maio
de 1937.
(2) – “A Derrocada do Pelourinho e da Câmara de Alcoutim
pelas Cheias do Guadiana em 1823” ,
José Carlos Vilhena Mesquita, in Jornal
do Algarve de 8 de Agosto de 1991.
(3) - Foi pena que o desenho não tivesse sido publicado
acompanhando o artigo. Quem sabe se não existirá no espólio do Sr. Guerreiro Gascon!
(4) – “O destino do Pelourinho da Vila de Alcoutim”, José
Varzeano, Jornal Escrito nº 37, de
Novembro de 2001, p III, encarte de 22 de Novembro de 2001 do Notícias do Algarve.