Castelo de Alcoutim visto por Duarte de Armas, séc. XVI |
Ao falar nas guerras que passaram por Alcoutim nem todas tiveram um sentido bélico como parece ter acontecido com esta, já que não conheço referência escrita de hostilidades. Desta vez Alcoutim não foi palco de lutas mas palco de pazes.
Por
morte de D. Afonso XI de Castela, foi a coroa disputada a D. Pedro, seu único
filho legítimo, por D. Henrique de Trastâmara, filho bastardo. A guerra
terminou quando D. Henrique assassinou D. Pedro, seu meio-irmão em 1369.
É
então que D. Fernando, por ser bisneto de Sancho IV, o Bravo, se julga com
direitos ao trono de Castela, o que é apoiado por certos magnatas, pois viam o
assassino de seu rei como um usurpador desqualificado pela tara da bastardia.
Aclamam-no
na Galiza, em Tui e Orense, Lugo, Santiago de Compostela e Corunha, por isso,
nas principais cidades, tal como em Cidade Rodrigo , Carmona, Zamora, Valência de
Alcântara e Baiona, na zona fronteiriça.
Faz
um acordo com o rei de Aragão, a quem prometeu casar com a infanta D. Leonor e outro
com o rei mouro de Granada.
Faz
então D. Fernando uma incursão na Galiza, por terra e por mar, mas D. Henrique
obriga-o a voltar ao reino, recolhendo-se a Coimbra. Como retaliação, D. Henrique
invade o norte de Portugal ocupando Braga, Bragança e outras terras, pondo
cerco a Guimarães.
D.
Fernando envia uma esquadra de trinta e duas naus para sitiar o porto de
Sevilha, tentando assim descongestionar a situação militar, o que não consegue,
pois parte das embarcações são destroçadas.
Nem
no mar nem em terra o rei consegue êxitos, pelo contrário, os resultados não
foram positivos.
Nenhum
dos antagonistas desejava uma decisão com receio de lhe ser desfavorável.
Gregório XI |
O
papa Gregório XI intervém com os seus medianeiros, no sentido de obter bons
resultados.
Onde
se irão realizar essas conversações que levarão ao tratado de paz? É Fernão
Lopes que nos diz na Crónica de D. Fernando, Capitulo LIII - Como foi trautado
antre el Rei Dom Hemrique e el Rei Dom Fernando, e com que comdiçoões. (...) em
huuma villa que dizem Alcoutim, bispado de Silve no reino do Algarve.
Possivelmente
no castelo, Fernão Lopes não o diz, reuniram-se em 31 de Março de 1371, o
representante do papa, Dom Agapito de Columpna, bispo de Brixa e os
procuradores de D. Henrique, D. Afonso Perez de Gusmão e D. João Afonso, conde de
Barcelos, por parte de D. Fernando.
D.
Fernando renunciava à coroa Castelhana e reconhecia Henrique II como rei. Foi
estabelecido que os dois monarcas desavindos se comprometiam a manter, desde então,
entre si, paz e amizade com troca de prisioneiros e devolução das terras
conquistadas. Devia também D. Fernando, ainda solteiro, pois não casara com a
infanta D. Leonor, filha do rei de Aragão, casar-se com uma das filhas de
Henrique II, também Leonor.
Dispunha
uma cláusula que a noiva viria para Portugal até ao dia 10 de Agosto. Traria em dote Cidade Rodrigo
e Valência de Alcântara na Andaluzia e Monterrei e Alhariz na Galiza, que
passariam à coroa do Reino de Portugal.
A
2 de Abril, na cidade de Évora, D. Fernando confirmou o tratado que
historicamente ficou conhecido por PAZ DE ALCOUTIM e pouco tempo depois o mesmo
fez Henrique II.
Não
cumprindo o acordado, D. Fernando casa com Leonor Teles, o que esteve na origem
da 2ª guerra.
A
PAZ DE ALCOUTIM é o facto histórico mais importante passado nesta vila, até aos
nossos dias, segundo a nossa opinião, contudo, o acontecimento continua sem
nada que o lembre na vila, nem sequer uma placa toponímica.
NOTAS
Este assunto teve por base natural a Crónica de D.
Fernando, de Fernão Lopes.
É o único assunto sobre Alcoutim que todas as
Histórias de Portugal referem, mesmo os pequenos resumos, antigamente destinados
à instrução primária (4ª classe).
Oliveira Martins, Fortunato de Almeida, Damião
Peres, Veríssimo Serrão, Hermano Saraiva, Oliveira Marques, José Matoso e João
Medina, entre outros referem nos seus trabalhos este facto, tal como Silva
Lopes na sua Corografia do Reino do Algarve.