sexta-feira, 18 de maio de 2012

Guerra de 1369 / 1371 (1ª Fernandina com Castela)

Castelo de Alcoutim visto por Duarte de Armas, séc. XVI

Ao falar nas guerras que passaram por Alcoutim nem todas tiveram um sentido bélico como parece ter acontecido com esta, já que não conheço referência escrita de hostilidades. Desta vez Alcoutim não foi palco de lutas mas palco de pazes.

Por morte de D. Afonso XI de Castela, foi a coroa disputada a D. Pedro, seu único filho legítimo, por D. Henrique de Trastâmara, filho bastardo. A guerra terminou quando D. Henrique assassinou D. Pedro, seu meio-irmão em 1369.

É então que D. Fernando, por ser bisneto de Sancho IV, o Bravo, se julga com direitos ao trono de Castela, o que é apoiado por certos magnatas, pois viam o assassino de seu rei como um usurpador desqualificado pela tara da bastardia.

Aclamam-no na Galiza, em Tui e Orense, Lugo, Santiago de Compostela e Corunha, por isso, nas principais cidades, tal como em Cidade Rodrigo, Carmona, Zamora, Valência de Alcântara e Baiona, na zona fronteiriça.

Faz um acordo com o rei de Aragão, a quem prometeu casar com a infanta D. Leonor e outro com o rei mouro de Granada.

Faz então D. Fernando uma incursão na Galiza, por terra e por mar, mas D. Henrique obriga-o a voltar ao reino, recolhendo-se a Coimbra. Como retaliação, D. Henrique invade o norte de Portugal ocupando Braga, Bragança e outras terras, pondo cerco a Guimarães.

D. Fernando envia uma esquadra de trinta e duas naus para sitiar o porto de Sevilha, tentando assim descongestionar a situação militar, o que não consegue, pois parte das embarcações são destroçadas.

Nem no mar nem em terra o rei consegue êxitos, pelo contrário, os resultados não foram positivos.

Nenhum dos antagonistas desejava uma decisão com receio de lhe ser desfavorável.

Gregório XI
O papa Gregório XI intervém com os seus medianeiros, no sentido de obter bons resultados.

Onde se irão realizar essas conversações que levarão ao tratado de paz? É Fernão Lopes que nos diz na Crónica de D. Fernando, Capitulo LIII - Como foi trautado antre el Rei Dom Hemrique e el Rei Dom Fernando, e com que comdiçoões. (...) em huuma villa que dizem Alcoutim, bispado de Silve no reino do Algarve.

Possivelmente no castelo, Fernão Lopes não o diz, reuniram-se em 31 de Março de 1371, o representante do papa, Dom Agapito de Columpna, bispo de Brixa e os procuradores de D. Henrique, D. Afonso Perez de Gusmão e D. João Afonso, conde de Barcelos, por parte de D. Fernando.

D. Fernando renunciava à coroa Castelhana e reconhecia Henrique II como rei. Foi estabelecido que os dois monarcas desavindos se comprometiam a manter, desde então, entre si, paz e amizade com troca de prisioneiros e devolução das terras conquistadas. Devia também D. Fernando, ainda solteiro, pois não casara com a infanta D. Leonor, filha do rei de Aragão, casar-se com uma das filhas de Henrique II, também Leonor.

Dispunha uma cláusula que a noiva viria para Portugal até ao dia 10 de Agosto. Traria em dote Cidade Rodrigo e Valência de Alcântara na Andaluzia e Monterrei e Alhariz na Galiza, que passariam à coroa do Reino de Portugal.

A 2 de Abril, na cidade de Évora, D. Fernando confirmou o tratado que historicamente ficou conhecido por PAZ DE ALCOUTIM e pouco tempo depois o mesmo fez Henrique II.

Não cumprindo o acordado, D. Fernando casa com Leonor Teles, o que esteve na origem da 2ª guerra.

A PAZ DE ALCOUTIM é o facto histórico mais importante passado nesta vila, até aos nossos dias, segundo a nossa opinião, contudo, o acontecimento continua sem nada que o lembre na vila, nem sequer uma placa toponímica.


NOTAS

Este assunto teve por base natural a Crónica de D. Fernando, de Fernão Lopes.

É o único assunto sobre Alcoutim que todas as Histórias de Portugal referem, mesmo os pequenos resumos, antigamente destinados à instrução primária (4ª classe).

Oliveira Martins, Fortunato de Almeida, Damião Peres, Veríssimo Serrão, Hermano Saraiva, Oliveira Marques, José Matoso e João Medina, entre outros referem nos seus trabalhos este facto, tal como Silva Lopes na sua Corografia do Reino do Algarve.