quarta-feira, 9 de maio de 2012

A "Reprezália" em Alcoutim


Nos primeiros anos da década de setenta dos nossos dias, nas minhas procuras de informação do passado alcoutenejo, encontrei no sótão da Repartição de Finanças do concelho um interessante Livro Mod 1-A de Registo de rendas dos prédios e juros de capitais pertencentes à Fazenda Nacional, no concelho de Alcoutim – Termo de abertura datado de 13.03.1867. (1)

Entre coisas que procurávamos e encpontrámos, deparámos com a indicação de uma “instituição” estatal e desaparecida, indicada como Reprezália.

Temos procurado saber o que foi a há muito extinta Reprezália mas a verdade é que até agora praticamente nada encontrámos, nem na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e noutras do género, nem em dicionários de História.

No Vocabulário de História, de Gustavo de Freitas, Porto, 1982, encontrámos a seguinte entrada:- “Represálias (Direito de) – Direito que tem qualquer Estado de, por sua vez, aplicar a outros que cometeram contra si actos internacionalmente considerados ilícitos, sanções normalmente também ilícitas (como por exemplo medidas de embargo ou de boicote).

Não sabemos se existe alguma relação entre este “significado” e a instituição. Inclinamo-nos contudo para algo que se sintonize com a posição fronteiriça que a vila sempre teve.

Presumimos que a instituição tenha sido extinta após a consolidação do liberalismo.

Dados certos são os bens que lhe pertenciam no concelho de Alcoutim e que passamos a enumerar:

Edifício da Santa Casa da Misericórdia na actual Rua D. Sancho II e que foi Rua das Portas de Tavira. Foto JV

1 – Uma casa na Rua Portas de Tavira. Em 1833 pagava foro Isabel Martins, viúva de Vicente Luís Marques. (2)

2 – Uma morada de casas na Rua da Misericórdia. Em 1833 pagava foro Hºs do capitão-mor. Sebastião José Teixeira e depois herdeiros de Pedro José Lopes e irmão Eduardo. (3)
Casa na Rua da Misericórdia que foi de Luís da Silva Lopes Corvo. Foto JV

3 – Uma morada de casas na Rua da Misericórdia. Pagavam foro Pedro José Lopes, José Guerreiro e Manuel da Trindade e Lima. (4)
Rua da Misericórdia. "Villa Velha". Foto JV
4 – Uma morada de casas na Rua Portas de Tavira, freguesia de S. Salvador de Alcoutim. Em 1833 pagava foro Bartolomeu Vaz que o remiu em 1872. (5)

Escadinhas da "Conceição". Foto JV
5 – Uma courela de terra no sítio do Enxoval. Foro a cardo de Gregório Palermo de Brito – Hºs de Vicente Gliz de Cortes Pereiras. Arrematado em 1883 por Francisco Simão da Cunha. (6)

6 – Umas casas na Rua dos Lagares. Em 1833 pagava foro o capitão-mor Sebastião José Teixeira; em 1850 Sebastião José de Freitas.

7 – Eira do Prior, na posse de Manuel José da Trindade.

8 – Uma herdade no sítio da Fonte da Pedra. Pagava foro em 1833, José Madeira.

9 – Uma courela de terra no sítio da Eira da Mesquita, freguesia de Alcoutim. José Afonso do Zambujal, Mértola, remiu o foro em 1873 por 3290 réis.

10 – Herdade da Zorra. Manuel Gonçalves Pereira, Manuel Luís e irmão José Joaquim pagam de foro três alqueires de trigo.

11 – Herdade da Alfateira (?), 9 alqueires de trigo a cargo de Manuel de Brito.

Os foros da Represália venciam-se a 20 de Outubro de cada ano.

Em 1874 (6) são enviados recibos das cartas de arrematação da compra dos foros pertencentes à Fazenda Nacional, pela extinção da antiga Represália.

NOTA
(1) – Devido aos nomes apresentados sugere-nos identificar esta casa com aquela que a Misericórdia de Alcoutim comprou à família Marques.

(2) – Admitimos que esta morada de casas seja a que se segue à Misericórdia e que foi propriedade de Luís Lopes Corvo, da mesma família Lopes

(3) – Poderá tratar-se da actual casa comercial Villa Velha.

(4) – Esta morada de casa poderá tratar-se da que se encontra junto das “Escadinhas da Sª da Conceição e que pertenceu ou pertence à família Vaz Martins

(5) – Gregório Palermo de Brito era vereador da Câmara Constitucional em 1823 e em 1836 depositário do Cofre do Concelho.

(6) - Ofício nº 85 de 28 de Agosto de 1874