Pequena nota
Apresentamos hoje um
interessante texto que um leitor assíduo do AL teve a amabilidade de nos
enviar.
A situação foi
despoletada pela recente publicação neste espaço de uma relação de enfermeiros
e paramédicos naturais deste concelho e continua aberta a quem quiser
colaborar.
Era bom que se pudesse
organizar uma lista destas CURIOSAS que tantos serviços prestaram aos seus
semelhantes o troco do bem servir pois não cobravam nada pelo seu trabalho
limitando-se a receber a recompensa que lhes quisessem prestar.
Em tempos antigos era
a parteira-curiosa que levava à pia baptismal o neófito e por vezes servia de
madrinha.
Temos por enquanto
muitos alcoutenejos que nasceram com o auxílio destas pessoas e de uma maneira
geral todos sabem o nome da curiosa que os assistiu. Havendo colaboração, não
seria difícil organizar para a posteridade uma relação destas pessoas para
serem recordadas pelos vindouros com o respeito e admiração que merecem.
JV
António Afonso
Em tempos idos e de má memória, nesse mundo
rural fechado, no meu concelho e não só, o direito à Saúde era apenas uma
miragem. É aqui que entra em cena esta Figura -a Parteira, a que eu ouso chamar
MAGA -hoje será da mais elementar justiça recordá-la.
Ela punha em prática os seus conhecimentos empíricos
transmitidos pelas mães e avós, ajudando as parturientes a dar à luz em
ambientes menos próprios. Eram chamadas de noite ou de dia, lá iam elas com o
seu xaile de lã (aqui chamado de CARINHOSA), se era Inverno ou de guarda -sol
se era verão. Nada pedia em troca!
Chegada ao local tornava-se a Chefe das operações, os homens
e as crianças eram mandadas para a rua, refugiavam-se na casa da vizinha, as
mulheres e ajudantes andavam num corrupio, com bacias e alguidares, panos que
haviam sido corados ao sol e passados a ferro de brasa (embora desconhecessem a
palavra esterilização), águas quentes e frias e o milagroso sabão azul para
lavar e desinfectar; arregaçava as mãos, lavava-se, benzia-se, por vezes
rezava! e ordenava a parturiente a colocar-se na posição ginecológica,
agarrar-se aos varões de ferro da cama e fazer força quando surgissem as dores,
quando se ouvia o grito dilacerante e o choro da criança - tinha-se dado o
supremo milagre, O nascimento! Porém se as coisas corriam mal, era necessário
buscar o médico a léguas de distância, por vezes era tarde demais Mesmo quando
a parteira não tinha sucesso, jamais alguém a incriminava, tal era o respeito!
Recordo-me que aqui há uns anos, de ir visitar ao Hospital
Pulido Valente, um arquitecto, nascido no Pêro Dias, nestas circunstâncias, ele
não me conhecia, apresentei-me dizendo-me filho da senhora tal, ao que a
namorada respondeu. Sim, é aquela senhora que te ajudou a nascer! Palavras que
muito me emocionaram.